MIOPIA EM FINANÇAS

Em meados de 1960, Theodore Levitt publicou “Miopia em Marketing” na Havard Business Review, que foi considerado um dos 16 artigos mais importantes na história daquela revista. Longe de querer o mesmo peso acadêmico e desdobramento, venho apenas propor uma breve reflexão sobre uma característica muito comum nas empresas brasileiras, principalmente as médias e pequenas, parafraseando aquela importante obra.


Dentre as principais causas apontadas para a mortalidade de empresas no Brasil, pelo menos 5 principais têm relação direta com Finanças. Os mais de 6 bilhões anuais de custos sócio-econômicos advindos da extinção de negócios estão relacionados com deficiências na concessão de crédito aos clientes, dificuldades de financiar as operações com capital próprio ou de terceiros, alto peso relativo da carga tributária em função da má formação de preços e estruturas de custos e despesas, tudo isso resultando em falta de capital de giro e problemas financeiros em geral, que bem podem incluir margens de rentabilidade insuficientes.

Na verdade, é possível que uma boa parte dos empresários e gestores pense a área financeira de forma limitada, sem enxergar realmente o alcance de seus benefícios. O fato de definir cargos administrativo-financeiros, misturando aspectos distintos de atuação, pode ser um sinal desta visão reduzida, numa tentativa de economizar o que sai caro depois. Parece que na maioria dos casos o setor financeiro está associado somente com pagar e receber contas, numa quase cega rota ao desconhecido, não enxergando que no fundo a missão de Finanças é manter as organizações saudáveis e prósperas, sejam elas quais forem.


A área financeira requer planejamento e controle. Estudo, análise e decisões com fundamentos matemáticos. Requer informações e trabalho sobre as mesmas, o que acaba de certa maneira fomentando a impessoalidade e a previsibilidade. Requer funcionamento organizado. Culturas organizacionais baseadas principalmente na intuição e na centralização, que muitas vezes geram desorganização e prejuízos, certamente têm dificuldades na vivência plena da área financeira, que inclui orçamentos, análises de viabilidade, fluxos de caixa, estruturas ótimas de capital, margens de contribuição, índices, taxas de retorno e capitalização, enfim, inclui critérios decisórios claros e distintos do popular “achismo”.

Não enxergar qual a verdadeira missão de finanças, ou ainda, não enxergar tudo o que esta área possui de benefícios, pode levar a situações difíceis e às vezes incontornáveis. Por isso, seria de grande proveito para as organizações tratar a miopia que as impede de ver os largos horizontes da gestão financeira.

Publicado origialmente em O Jornal em 21.11.2006

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