FINANCIAMENTO: O PROBLEMA DA SAÚDE

A prestação de serviços de saúde no Brasil é um grande "case" a ser resolvido. Nela temos uma grande demanda mas temos uma infinidade de clientes insatisfeitos por causa da má qualidade no atendimento. Temos profissionais insatisfeitos pela baixa remuneração e por condições de trabalho insuficientes. E temos estabelecimentos insatisfeitos, muitas vezes em estado de deterioração. Não é fácil encontrar um ramo onde exista tanta insatisfação junta. Porém, gostaria de abordar o assunto pela ótica de finanças. A meu ver, estamos na verdade diante de um problema de financiamento.
 
Sim a gestão de hospitais é complexa. A saúde é bastante regulada, talvez a atividade mais regulada que exista na economia brasileira. Algumas ilhas de excelência conseguem bons resultados desenvolvendo uma gestão profissional e eficiente. Todavia, mesmo com um funcionamento melhor não conseguem resolver a equação financeira que fundamenta o setor. Nela, temos equipamentos caros, materiais caros, mão de obra cara, contrapondo-se a preços baixos, sejam eles vindos da tabela do SUS que não sofre reajustes conforme a inflação, sejam vindos das tabelas de convênios que apesar de um pouco melhores, também tendem a ter preços que não remuneram adequadamente vários procedimentos. Some-se a isso, uma necessidade alta de capital de giro causada por prazos médios de recebimento sempre maiores que os prazos médios de pagamento, e estoques mal geridos. O resultado é que os estabelecimentos acabam sem remunerar o imobilizado, e vão deteriorando-se ao longo do tempo. Muitos se endividam. Muitos fecham as portas. E o cliente sofre bastante. A taxa de leitos nos últimos 11 anos caiu cerca de 15%.
 
O saudoso Adib Jatene tentou resolver o problema atacando esta raiz. Percebeu que a Saúde precisava de dinheiro. O que ele não viu foi que existe um outro problema a ser resolvido. A grande participação estatal neste segmento, que desvia os recursos para outras finalidades, atrasa o pagamento dos serviços prestados, e tem grande dificuldade de gerir os estabelecimentos, com raras e honrosas exceções. E quando falo em grande participação não me refiro ao número de hospitais, pois neste quesito os públicos não chegam a 30%. Na oferta de leitos a rede privada também possui um número maior. Isso só demonstra que investiu mais apesar das dificuldades. Se esse investimento não tivesse existido o caos seria ainda maior. Quando falo em participação estatal, falo essencialmente na gestão do segmento. O estado brasileiro interfere bastante e assim demonstra a ineficiência econômica tão bem identificada em outros mercados.
 
Por causa de suas condições, não é incomum constatar estabelecimentos de saúde com um EVA negativo. Alguns até geram lucratividade mas não conseguem gerar valor agregado e por isso estão fadados a morrer no longo prazo. Isso se dá por causa de uma margem líquida pequena, impactada pelos preços baixos e altos custos. Isso explica o grande volume de clientes, pois eles só dispõem da escala para sobreviver. Ou seja, atender mais por menos. A qualidade é a grande prejudicada. Também por causa de um ativo alto, impactado pelas altas contas a receber e estoques, e um alto imobilizado, pois necessitam de caras estruturas físicas e equipamentos.
 
Não sou pessimista em nada. Porém, enquanto esta equação perdurar, vamos assistir as cenas lamentáveis e ler os relatos deprimentes que vemos na imprensa. Boa saúde se faz com gestão e dinheiro. O resto é bravata e ideologia ineficaz.

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