A PARALISIA PELO CAPITAL SOCIAL

Tenho me deparado em muitos clientes com esta mesma situação. A empresa entra numa espécie de letargia, paralisando as suas iniciativas estratégicas de melhoria e desenvolvimento, muitas delas entrando em processo auto destrutivo. O volume de investimentos diminui, o faturamento deixa de apresentar tendência de crescimento, a margem de lucratividade apresenta declínio, o imobilizado se deteriora, o endividamento aumenta. E não adianta muito melhorar processos, implantar planejamento e gerenciamento estratégicos, investir nas políticas de RH, arrumar as finanças ou reposicionar a empresa no mercado. Nestes casos, o alvo a ser trabalhado está mais acima. 

Toda empresa possui um ciclo de vida, assim como os seres vivos. E da mesma forma, ele possui as fases de nascimento, crescimento, maturidade e declínio, todas com características bem peculiares, tanto na sua gestão como no seu universo financeiro. Na fase de maturidade, a empresa procura manter seu status quo mas forças muito maiores a puxam para o declínio. Neste exato momento, é preciso atuar corretamente em um ponto fundamental de vida empresarial que é a formação do capital social. Muitas vezes esquecido em meio aos problemas operacionais, o capital social é um dos fatores determinantes para toda esta situação abordada até agora. Muito mais preponderante nas empresas por cotas de responsabilidade limitada, esta composição também tem relevância nas empresas de capital aberto, a exemplo do que temos visto na Petrobrás ultimamente. Neste caso específico, o conselho de administração possui 7 dos 10 membros indicados pelo governo e estamos vendo no que dá. 

Nas empresas Ltdas, onde a gestão e a propriedade estão mais próximas, eu poderia dizer que o impacto do capital social é determinante. Quando falo deste assunto, refiro-me basicamente a dois aspectos específicos. Quem são as pessoas que formam este capital e qual a sua distribuição. As infinitas combinações destas duas variáveis, define o que a empresa é e vai ser no futuro. Inclusive determinam a paralisação que tenho constatado em algumas. É praticamente impossível discorrer sobre todas as possibilidades, porém gostaria de enfocar uma circunstância pontual. Quando o capital está pulverizado de uma maneira equitativa e a participação de cada sócio impossibilita que alguém tome as iniciativas, e o retorno delas gerará benefícios menores do que o esforço em obtê-los. Este é o alicerce da paralisia. Ora, se os ganhos vão ser repartidos por todos, porque alguém ficaria sozinho com o esforço? Diante de um cenário assim, não há motivação econômica suficiente, aquela que fez o negócio nascer e crescer ao longo do tempo. Então, ele para. E parando, começa a morrer. Cada empresa respira. Ela tem uma vida que se alimenta do entusiasmo dos seus donos e gestores. A paralisia pelo capital social é um sinal de que isso já não existe mais. 

Existem alguns caminhos para reverter este processo danoso. Um deles, mais complexo e demorado, é cada sócio mergulhar numa espécie de terapia pessoal, e se resolver em relação ao que quer dela, o que pode fazer por ela antes de pensar no que pode receber dela, bem parecido com o discurso de John Kennedy. Unir forças e remar para frente. Mas existe em outro caminho. Reformular o capital, deixando aqueles que querem e podem fazer alguma coisa pela empresa. Desapego e maturidade são necessários. Também uma boa avaliação das cotas, para encontrar-se um preço que acomode os interesses e expectativas das partes. Um preço que corresponda ao valor que cada um traz consigo em sua subjetividade. 

De uma forma ou de outra, a empresa precisa encontrar uma saída. Do contrário, seu destino poderá ser bem pior do que o presente já aponta. Neste aspecto, nada é tão ruim que não possa piorar.  E nada é tão difícil que não possa ser resolvido. Basta querer. 

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