VINTE CENTAVOS: QUANTO VALE UMA NAÇÃO?
O preço dos produtos e dos serviços é uma patamar monetário
que define de certa forma o valor que estes itens possuem para a sociedade. Em
tese, quem deveria definir o preço seria o mercado, em função da procura pelo
item. E esta procura seria definida pela qualidade que este item oferece, pelo
benefício que fornece para quem o consome. Acontece que dependo do local onde
você mora, a diferença entre o que deveria ser e o que é fica bastante grande.
Os estudantes de São Paulo começaram o seu protesto por causa
do aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus. Ora, o que são vinte
centavos? Olhando de uma maneira absoluta, quase nada. No entanto, nenhum preço
pode ser olhado somente dessa forma. Eles precisam ser olhados de uma maneira
mais ampla, analisando-se a sua composição, a sua formação, o seu impacto no
mercado e o valor relativo e subjetivo que ele possui. Os preços são
importantes referenciais sociais.
Tomando este rumo de análise, podemos perceber que o valor
monetário que motivou a mobilização não corresponde a consequência desse
aumento. Os manifestantes não estão nas ruas somente por causa disto. Se você pensar,
ninguém rejeitaria um aumento destes se ele viesse acompanhado de uma melhoria
na prestação do serviço nos transportes públicos. O problema é que o aumento se
dará e os serviços continuarão os mesmos, vale registrar de péssima qualidade.
As pessoas dentro deles feito gado, amontoadas pelos corredores e bancos, sem
condições alguma de privacidade, como se fossem animais. A falta de segurança
dentro dos veículos, a falta de conforto, a falta de pontualidade nos horários,
completam o cenário desagradável e ineficiente. Neste contexto, vinte centavos
fica caríssimo. Também fica caro, quando se vê somas muito maiores sendo
destinadas para fins ideológicos, saindo pelo ralo. Trata-se assim de mais um
avanço no bolso das pessoas sem a contrapartida necessária. O real motivo da
manifestação é a revolta diante da exploração que o povo brasileiro tem sofrido
do Estado constituído para lhe servir e que em vez disso, serve a grupos que se
apossaram dele.
Os movimentos sociais sempre são puxados por um grupo e não é
incomum que os estudantes sejam este estopim. Mas também não é incomum que
outros grupos se somem à iniciativa e outros temas sejam incorporados. Temos
visto pelo mundo e aqui que são ações imprevisíveis cujo desfecho chegaram
inclusive a derrubar governos com uma forte utilização das redes sociais, meio
onde não há uma cabeça e sim uma rede de rápida de disseminação de informações.
Alguns governos não estão preparados para coisas mais elementares como fornecer
transporte público decente ou treinar policiais para lidar civilizadamente com
manifestações, quanto mais para lidar com isso.
As revoluções nunca aconteceram pelas ideias. Elas ocorreram
por dinheiro. No nosso caso, mais uma vez não são os vinte centavos que estão
em jogo. Mas os bilhões perdidos na corrupção, no superfaturamento das obras, na
má gestão do orçamento público, e nos milhões que são gastos para manter os
poderes executivo, legislativo e judiciário sem que o cidadão receba os
benefícios disso. Quantias enormes e impensáveis das quais os vinte centavos
apenas fazem parte.
Comentários
Postar um comentário