REPRESSÃO E FUTEBOL: UMA REPETIÇÃO BIZARRA
A
combinação de repressão com futebol não foi um privilégio de Brasília no dia de
hoje. Também ocorreu na época da copa de 1970.
Nos campos mexicanos, Pelé, Tostão,
Jairzinho e Cia , davam um verdadeiro espetáculo: 4 x 1 na
Tchecoslaváquia, 1 x 0 na Inglaterra, 3 x 2 na Romênia, 4 x 2 no Peru, 3 x 1 no
Uruguai e 4 x 1 na Itália em plena final. O mundo jamais esqueceu aquela copa.
Fora do campo, a repressão da ditadura militar continuava seu trabalho. Anos
antes, os soldados batiam nas pessoas no meio da rua, reprimindo as
manifestações. Mas as rádios tocavam sem parar: “90 milhões em ação, pra frente
Brasil do meu coração. Todos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a
seleção...” e a nação canarinho festejava o tricampeonato como se tivéssemos
ascendido à condição de um país desenvolvido, embalados por uma taxa média
de crescimento na década de quase 9% ao ano.
Comenta-se
bastante sobre o uso do futebol pelo governo, para direcionar as atenções da
população e comunicar a nação um projeto vitorioso. As vezes parece inclusive
que o atual faz a mesma coisa, quando destina milhões para os estádios,
deixando assuntos mais importantes no segundo plano. Os militares subiram ao
poder para inibir um movimento socialista que pretendia fazer o mesmo. Agiram
com rigor, torturaram e conseguiram o seu objetivo. Depois, o mundo mudou, a
sociedade brasileira pediu e eles saíram pela porta dos fundos, seguidos de uma
campanha para desconstruir tudo o que fizeram. Parece que o Brasil ficou
traumatizado e tentou esquecer aquele período, como se a história pudesse
começar no momento em que nós queremos, quando na verdade ela continua sempre e
as vezes até se repete.
Passaram-se
40 anos e muitos dos jovens que lutaram contra o regime, assumiram cargos no
governo. Foram eleitos pelo voto para cadeiras e assumiram o poder que um dia
eles imaginaram usurpar. Eles não mudaram seu pensamento mas mudaram as suas
práticas. O Brasil está há 10 anos sendo governado por um grupo com pensamento
socialista, o mesmo pensamento que foi derrotado em 64. O país tem uma
expectativa de crescimento este ano de menos de 3%, altos índices de
criminalidade, uma corrupção impregnada em tudo, péssimas condições de saúde,
educação, transporte e uma legião de viciados em drogas e todo tipo de bolsa.
Bem diferente daquilo que se pregava no palanque. Se isso não bastasse, o
governo tem usado dinheiro do povo para satisfazer sua política ideológica de
parcerias pelo mundo sub desenvolvido e favorecer grupos econômicos internos.
Ao
ver pela TV as cenas da polícia reprimindo violentamente os manifestantes hoje
em Brasília, na sequência do ocorreu em São Paulo há dois dias, não é difícil
lembrar dessa época. Não é difícil perceber uma espécie de repetição bizarra no
que está acontecendo. Milhares torcendo pela seleção brasileira que venceu o
Japão por 3 x 0, enquanto outros recebiam a truculência dos policiais porque
protestavam por melhores escolas e hospitais. Motivos diferentes do passado, governos
diferentes, tempos bastante diferentes por ironia trazendo à tona as mesmas
cenas do passado. Claramente, o povo está dando o seu recado. Aproveita
símbolos de filmes e usa músicas da mídia cantando que a rua é maior arquibancada do Brasil. No início da competição, vaia sonoramente a presidente e com entusiasmo
canta o hino nacional logo a seguir. Só
não entende quem não quer. Vamos ver os próximos capítulos. Como disse meu sogro: “Vale a pena verde novo”!
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