A LÓGICA INVERTIDA DA RENDA BRASILEIRA
Bem, a coisa mais lógica e correta
que podemos imaginar é que a renda das pessoas é o resultado direto das suas
atitudes e condutas ao longo da vida. Uma espécie de recompensa pelo trabalho,
pela contribuição à sociedade, que estimula as pessoas a continuarem no caminho
que estão. Esse raciocínio pode ser aplicado na maiores das vezes em vários
países sem que seja considerado equivocado. No Brasil, ele também se aplica, no
entanto de uns tempos para cá, existe uma força atuando na sociedade
brasileira, que está alterando este conceito. A estória de ficção a seguir
ilustra bem o caso e foi inspirada em um post no Facebook, de Lucas Toledo
Rocha, meu filho.
Maria e Joana eram duas amigas de infância. Daquelas inseparáveis que
dividem os segredos e os bons momentos da vida. Tanto que casaram no mesmo dia
com seus respectivos noivos e foram morar na mesma rua, na periferia da cidade
de São Paulo. Maria nunca preocupou-se com o controle da natalidade, teve 5
filhos e não desenvolveu uma profissão. Quando podia, fazia faxina em casas de
família. O marido trabalhava de carteira assinada em um supermercado. Mas desde
o início vivia bebendo nos botequins e com umas amizades pouco recomendáveis. De
vigilante, preferiu ser assaltante e depois tornou-se assassino. Foi preso. O
filho mais velho de Maria, não quis estudar. Começou no álcool, depois passou
para a maconha e logo estava no Crack, dormindo pelas ruas. A filha segunda
gostava baladas e de funk. Tanto que no final de uma delas foi violentada por
um rapaz que ela nunca mais viu.
Mesmo sem ninguém
trabalhar, a renda da família de Maria era de R$ 3.305,78. Com o cartão do bolsa família ela recebia R$
306,00 nas agência da Caixa. Como seu marido estava preso depois de assaltar
comerciantes e matar pais de família que trabalhavam, ela recebia auxílio
reclusão de R$ 971,78. Para custear o tratamento do filho mais velho viciado,
ela recebia R$ 1.350,00 e após aprovação em Brasília, ela passou a receber R$
678,00 porque sua filha engravidou depois de ter sido estuprada.
Joana por sua vez sempre
foi cuidadosa com a natalidade e só teve um filho que procurou criar com todo
esmero possível. O marido dela saia as 4 horas da manhã para trabalhar de
servente de limpeza numa empresa no centro e chegava em casa após as 21h. Ela
por sua vez também era faxineira como Maria, mas muito mais assídua e
caprichosa no serviço. Recentemente foi contratada com carteira assinada. O filho
do casal sempre esforçado, tirou boas notas na escola pública e começou a
trabalhar cedo como office-boy, sonhando com a faculdade e a possibilidade de
dar uma vida melhor para seus pais cujos cabelos brancos já decoravam a
aparência. Eles iam a Igreja mas o jovem desejava levar seus pais ao Rio de
Janeiro, para um passeio em Copacabana.
Todos trabalhavam muito
na família de Joana. A renda bruta era de R$ 2.034,00 pois os três recebiam
salário mínimo. No entanto, eles não dispunham desta quantia porque o mesmo
Estado que garantia a renda de R$ 3.305,78 para a família de Maria, ficava com
um pedaço da renda da família de Joana, dizendo que era para o futuro deles. Eles
recebiam juntos R$ 1.749,24, também porque usavam vale transporte para trabalhar
e pagavam por isso.
Algo está muito errado nesta estória. Nenhuma nação é construída dessa
maneira. Não há como mudar o passado das famílias como as de Maria e de Joana.
Mas se fizermos as escolhas certas, existe a possibilidade de mudarmos o futuro
delas, das famílias dos nossos filhos, e de todas as outras que virão.
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