REVISITANDO A GERAÇÃO PERDIDA
As finanças pessoais tem despertado
o interesse de muita gente. Não é para menos. Se as pessoas estão bem, a
economia está bem. E se a economia está bem, o país está bem. Tenho postado
alguma coisa a respeito e percebo pelo retorno que as pessoas estão cada vez
mais voltadas para isso o que é muito bom. Certa vez, depois de um post, uma
amiga me perguntou se valia a pena começar uma previdência privada aos 48 anos.
Na resposta, eu disse que pelos parâmetros de hoje era tarde, que o valor
dependia do tempo de recolhimento, do valor recolhido, das taxas de
capitalização e administração, que ela deveria cotar em vários bancos e que
mesmo tardiamente, era bom pensar nessa alternativa. Também disse para ela que
não se preocupasse por estar nessa situação, porque muitos outros estavam
assim, pois faziam parte da “geração perdida”. Ela surpreendeu-se: “Quer dizer
que somos a geração perdida?”. Sim, infelizmente somos.
Este conceito eu ouvi a primeira
vez pelo rádio numa conversa de Mara Luquet e Carlos Alberto Sardenberg. Com
base nisso e no livro de Miriam Leitão, vou explicar um pouco mais esta
estória. Nos anos de 1979 a 1984, tivemos 8 planos econômicos, 13 ministros da
fazenda e uma inflação acumulada de impensáveis 13.342.356.717.617,70% ! Um
número de 16 dígitos que é difícil até de dizer. Entre 89 e 90 a inflação
mensal chegou a 83% ao mês, no que os economistas chamam de hiperinflação. O
efeito inflacionário sobre a moeda todos nós conhecemos. Ela reduz o poder
aquisitivo fazendo com que as pessoas possam comprar cada vez menos com a mesma
quantia. Nesta época, foi realidade comprar um produto por um preço pela manhã
e outro pela tarde. A vida das pessoas é afetada drasticamente. Perde-se a
noção de preço e consequentemente de valor. Os cálculos financeiros e contábeis
ganham uma complexidade extra com a correção monetária galopante. A gestão do
dinheiro fica uma loucura. Empresas pagavam as folhas de pagamento com o
resultado da aplicação financeira. A produção e o investimento ficam
prejudicados.
Porém, esta não foi a única
consequência na vida dos brasileiros. Passada a tempestade podemos avaliar
melhor os estragos. As pessoas que estavam com 20 ou 30 anos nesta época, não
conseguiam formar perspectivas de longo prazo, em função da instabilidade
econômica que reinava. Era raro ouvir alguém fazer planos com horizontes
elásticos de tempo porque não havia condições objetivas e concretas de planejar
o amanhã. Também era raro encontrar produtos financeiros que pudessem fazer a
previdência que os atuais podem. O resultado é que estas pessoas não formaram
suas reservas financeiras para a maturidade, em parte porque as condições
econômicas não favoreciam, e em parte porque estas mesmas condições econômicas
lhes tiraram a visão do futuro.
Estas pessoas formam então a
“geração perdida” em termos de poupança, previdência, reservas ou formação de
riqueza pessoal. Não sabemos exatamente quantas são, mas podemos especular que
são milhões. Milhões que não tiveram como pensar no amanhã em termos financeiros
e que agora precisam fazê-lo mesmo que tardiamente. Pois, nunca é tarde para
fazermos o que é bom para nós. Não importa o que tenha ocorrido, de nada vai
adiantar encontrar os culpados. Estes anos já foram perdidos e não mais vão
voltar. Agora é olhar para frente e fazer de tudo para que esse pesadelo jamais
volte para as nossas vidas.
Comentários
Postar um comentário