A SOCIEDADE QUE PRECISAMOS

Na iminência de mais uma eleição que nos obriga a esta avalanche de candidatos, talvez seja melhor refletir sobre o tipo de sociedade de que precisamos. Que tipo de sociedade pode nos tirar realmente desse sono anestesiado em que vivemos e lançar luzes para o bom futuro, cada vez mais distante, como num pesadelo. Isso porque estas pessoas que desejam ocupar esses cargos importantes assumem o poder de influenciar o nosso presente, de construir o que somos hoje e o que serão nossos filhos amanhã. É difícil enxergar as conseqüências dos seus atos, pois estamos ocupados com o nosso cotidiano, enquanto eles se ocupam em torná-lo adequado às suas conveniências.

 Dentro das 760 páginas de A Riqueza e a Pobreza das Nações, encontra-se uma interessante proposição de David Landes, professor emérito de história e economia política em Harvard, um dos maiores centros de saber do mundo. No meio de suas abordagens sobre como os povos conseguiram ascender e decair, com reflexos no padrão de vida das populações e avanços de tecnologia, ele arrisca-se sem timidez numa breve lista de características de uma sociedade capaz de prover aos seus integrantes ganhos consistentes de renda e bem-estar. Não por coincidência, exatamente o que queremos. Ela deve operar e construir instrumentos de produção, gerando e empregando novas tecnologias, bem como transmitir estes conhecimentos aos seus jovens. Deve sempre escolher pessoas para funções com base no mérito e na competência, promovendo ou rebaixando, com o desempenho como parâmetro. Deve proporcionar oportunidades para empreendimentos, encorajando a iniciativa e a correta competição, permitindo que se desfrute dos ganhos obtidos. Em termos de instituições, deve garantir de fato a propriedade privada, a liberdade pessoal e a igualdade incondicional de direitos, fomentando o cumprimento dos contratos explícitos e implícitos. Finalmente, e mais importante, esta sociedade deve providenciar para si um governo honesto, de modo a não colaborar com vantagens e privilégios. Fundamentalmente moderado, eficiente e não ganancioso, com impostos baixos e tamanho reduzido. Sensível às queixas e apto às correções. Utopia? Certamente não. Pesquisa, pragmatismo e bom discernimento, bastante necessários às atuais circunstâncias.

Conhecendo tal proposta, não se pode deixar de perguntar quais candidatos pensam desta maneira ou quais candidatos têm condições de entender isto, e, principalmente, quais candidatos podem torná-la realidade. È inevitável a comparação com nossos governos, muitas vezes completamente contrários a estas premissas. Um antagonismo que gera toda sorte de flagelos sociais, estampados de forma incansável nos noticiários da imprensa. Flagelos que são verdadeiros crimes contra todo um povo privado de sua vocação essencial, com gerações que estão literalmente se perdendo e mendigando cidadania. Enquanto possuirmos candidatos distantes destes pressupostos, continuaremos nesta lama de clientelismo quase feudal, de servidão medíocre, perdendo todos os bondes que a história nos enviar e fazendo da nossa nação algo muito diferente do gigante que a natureza generosa imaginou.

Tibério Rocha Júnior
Publicado originalmente em O Jornal

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