ANATOMIA DA POBREZA

Em 1836, o londrino Nathan Rothschild era o homem mais rico do mundo em ativos de curto prazo. Podia comprar praticamente tudo o que quisesse. No entanto, morreu aos 59 anos de uma infecção que seria facilmente tratada hoje em dia. Ao longo das nossas vidas, somos levados a crer que a pobreza é simplesmente a carência de recursos materiais. Porém, ela é muito mais abrangente que isso e sem dúvida é o grande flagelo da humanidade. Ou acabamos com a pobreza ou ela acabará conosco.

O que vemos todos os dias da pobreza é somente a ponta o iceberg, pois ela manifesta-se primeiro pela ignorância, combatida pelo que chamamos cotidianamente de Educação. Ignorar gera a mediocridade, a mãe de muitos dos nossos males sociais, como por exemplo a intolerância, que fomenta os conflitos em todas as escalas, a ganância que alimenta a injustiça e a corrupção, a insensibilidade de conviver com a desgraça dos outros, com o descaso para com o meio ambiente, com a ineficácia do Estado, a incapacidade de sermos felizes, a falta de altivez e fibra pessoal, e os enganos que cometemos pela malícia dos outros ou pela nossa própria vontade de acertar. A mediocridade nos leva a perder o vínculo com as artes, a cultura, a história. Nos isola no fosso do egoísmo.

O lado material da pobreza pode ser enfrentado de forma simples, pensam alguns. Adam Smith por exemplo recomendava o aumento da produtividade para as nações. Não me parece que seja só isso. Para o universo individual, trabalho e estudo é um bom começo. Leitura, reflexão crítica, interação com outras pessoas, exercícios de boa convivência, fé. Todos estes itens são passos proveitosos. O mais importante entretanto, é ter certeza de que a pobreza não é uma sentença imutável nem um destino fixo, mas sim uma condição temporária. E como tal é adquirida, aceita ou permitida. E como tal, pode ser alterada, superada, e transformada.

A certeza disto pode nos despertar dessa letargia hipnótica. Pode alavancar nossas atitudes e pensamentos para que busquem as nossas próprias melhoras, respostas e soluções. Pode, principalmente, modificar nossa consciência sobre nós mesmos e sobre o mundo. E isso é a verdadeira matéria prima do paraíso tão desejado. Isso pode afastar a possibilidade de acabarmos como Rothschild, que mesmo cercado de todas as possibilidades que o dinheiro pôde lhe proporcionar, faleceu vítima de uma ferida. Porque mesmo estando rico, a sociedade em que vivia estava pobre. Pobre de conhecimento. Porque de nada adianta a riqueza quando a pobreza inunda os nossos cálices, com o gosto amargo do pior.

Tibério Rocha Júnior
Publicado originalmente no jornal Gazeta de Alagoas



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