QUATRO COISAS SOBRE CORRUPÇÃO QUE VOCÊ NÃO OUVE POR AÍ

A corrupção é assunto de pauta constante no Brasil, graças aos escândalos que este governo protagoniza. Nas conversas informais e nas reuniões de trabalho ouvimos opiniões diversas sobre o tema, as vezes condenando a prática e as vezes justificando. 

No entanto, os conteúdos giram mais ou menos em torno das mesmas argumentações, quer sejam afirmando que não tem jeito, que todo mundo é corrupto, que o país está tomado por esta praga, ou que é coisa de ladrão, que é falta de punição e vergonha na cara, que é um crime hediondo, entre outras classificações. O fato é que a corrupção vai além da dimensão moral e penal. Ela é muito mais que isso. E se quisermos um país melhor ela precisa ser combatida exaustivamente até ser reduzida a níveis menos nocivos para a sociedade. Veja porque: 

1. A corrupção recompensa três inimigos do desenvolvimento: 

a) O Elitismo: A corrupção só é boa para quem a pratica. Todo o resto sai perdendo. Para praticá-la é preciso estar participando de um grupo restrito. As oportunidades e benefícios não são distribuídos para fora dele, e isto impede a mudança de status econômico. Quem é grande tende a ficar cada vez maior e quem é menor não tem chance de crescer. 

b) O Favorecimento: Favorecer é mais que uma simples gentileza. É facilitar, subverter regras e promover condições, para que algo ocorra. Essa prática desvaloriza o mérito e o empenho. Também reduz a realização pela vitória. Este efeito transfere o investimento da pesquisa, da ciência, da preparação e do estudo para o relacionamento. Isto corrói a base do avanço tecnológico e da produtividade. 

c) A Ineficiência: Quando uma pessoa ou uma empresa ganha dinheiro com corrupção, ela passa uma falsa impressão de sucesso para os outros e para si. As competências para praticar corrupção são diferentes daquelas para captar e manter clientes, produzir, gerir pessoas, processos e finanças. Os preços tornam-se mais altos porque o custo da corrupção é incorporado para manter o lucro. Os empregos gerados são em parte fictícios porque as receitas são mantidas artificialmente. Os lucros da mesma forma. Os esforços são retirados da busca pela eficiência para a manutenção da fonte. Sem eficiência, as pessoas e as empresas se enfraquecem, ficam despreparadas para a concorrência e tornam-se alvos fáceis. Não possuem sustentabilidade. 

2. A corrupção é um dos maiores concentradores de renda que existe. Os recursos vindos dela são retirados da economia real e aplicados no patrimonialismo e na economia submersa. Isso significa dinheiro parado em bancos, transferido para o exterior, transitando no caixa dois sem gerar tributos, financiando crimes, tráfico de drogas, ou simplesmente alocado em terras e imóveis. Dinheiro de corrupção não circula como o outro, e quando o faz, incorre em vários outros delitos. Se o dinheiro não circula, não gera benefícios nem o valor alocado nele é distribuído.  E isso prejudica a prosperidade. 

3. A corrupção empobrece a Sociedade. Gera ricos mas não gera riqueza. Não somente não produz como inibe a inovação, a oferta de produtos e serviços. Você não a vê mas consegue enxergar as conseqüências. Não é raro que Ilhas abastadas cercadas de miséria, sejam cenários filhos da corrupção. Ela não só fomenta o egoísmo, como retira dos demais oportunidades de melhoria de vida. 

4. A corrupção não é causada por falta de caráter. Ela não é somente um problema moral, apesar de muito comumente estar associada a isso. Ela é causada pelo desequilíbrio financeiro entre Estado e Sociedade. Estados muito ricos como o nosso, e uma Sociedade pobre como a nossa, costumam incentivar a prática corrupta. O dinheiro público não tem dono, não tem quem lute por ele, não tem controle satisfatório, não tem consequência do mau uso, e quase sempre é gerido por quem não nunca viu tamanhas somas. Não dá outraO fluxo financeiro é concentrado na esfera federal, que destina-o conforme seus interesses. Centralização sem controle causa corrupção. Nosso Estado é muito poderoso e rico. Precisamos reduzir isso para que o dinheiro migre para a Sociedade. Menos Estado, menos corrupção. Negociações entre empresas privadas são diferentes. 

Então, a situação não é tão simples. Não basta colocar meia dúzia na cadeia. Mesmo assim, esta iniciativa é muito importante. Ela inibe outros praticantes e comunica claramente que todos estão sob a tutela da lei. Não é Sérgio Moro que está deteriorando a economia, as empresas e o país. Isto é inverter a causa. Quem está fazendo isso é a corrupção. Se as empresas estão sendo prejudicadas, a culpa não é do Moro mas sim dos CEO's. Um juiz não tem poderes para desmontar um país corrupto. Ele é a ponta do iceberg. Para que este combate  esteja acontecendo, existem promotores, delegados, policiais, juízes, jornalistas, instituições, que também estão atuando. E um grande poder político apoiando que representa a maioria da população. Ninguém gosta de roubo. Nem o próprio ladrão. Então não é Moro. É uma Nação que quer viver sem ser saqueada todos os dias. Não calemos esta vontade. 

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