TRIFÃO E SEUS IMPOSTOS
O pagamento de tributos sempre
foi um incômodo para a humanidade. Em Oxirrinco no Egito sob o domínio romano, Trifão
foi um tecelão que pertencia as camadas baixas da população. Antes de completar
14 anos, já pagava o imposto sobre atividades artesanais, pago indistintamente por homens e mulheres.
Dos 14 aos 60 anos, quem não pertencia às classes privilegiadas como ele,
pagava o imposto individual, levando a crer que quanto mais numerosa a família
mais imposto se pagava. Além disso, ele pagava a taxa de transporte, a taxa do
dique, e a taxa do porco, mesmo que não os criasse. Não é difícil imaginar que
Trifão não gostava disso, mesmo que pudesse pagar em parcelas, exatamente como
podemos fazer hoje. Andando mais adiante, podemos verificar que importantes movimentos
revolucionários da modernidade, como a inglesa revolução gloriosa, a revolução
francesa, a independência americana e até a inconfidência mineira, tiveram aspectos
tributários em suas motivações. O jurista Ives Gandra Martins está realmente certo
quando enuncia que “tributo é norma de rejeição social”.
Chegando ao Brasil atual nos
deparamos com um complexo sistema arrecadador, repleto de impostos, taxas,
contribuições sociais, de melhoria, empréstimos compulsórios e inúmeras
obrigações acessórias, fazendo inveja a qualquer imperador da antiguidade. Nas
empresas, isso acaba incentivando uma
série de condutas desonestas, camuflando, simulando e omitindo após o fato
gerador do tributo, normalmente acompanhadas de estelionato, adulteração de documentos,
subornos e falsidade ideológica. No entanto é bom que se diga que esta não é a
única maneira de enfrentar o problema da alta carga tributária. As empresas
podem adotar formas lícitas para retardar, evitar ou reduzir o pagamento de
tributos antes do fato gerador, praticando elisão fiscal, ou mesmo elusão
fiscal, e não sonegação simplesmente. Em verdade, devem incluir na sua lista de
prioridades o planejamento tributário, o que Hermes Huck afirma ser tão
essencial quanto o planejamento econômico, financeiro, técnico, comercial e
mercadológico. Sendo tão relevante o ônus tributário, não basta somente saber o
quanto pagamos de imposto quando compramos alguma coisa. É preciso planejar
detalhadamente toda a operação afim de se obter o melhor resultado possível.
Isso evitaria, por exemplo, que muitas empresas optassem pelo regime de lucro
presumido quando teriam mais vantagem com o velho lucro real.
Bastante experientes no assunto, os
britânicos defendem que é um mal negócio sonegar tributos para obter competitividade
comercial. Olhando com cautela, isso realmente tem sentido pois trata-se no
fundo no fundo de uma grande ilusão, nociva à sociedade e às organizações. Uma
empresa que não tem como provisionar o pagamento dos seus tributos precisa reformular suas operações. Enquanto
não vem uma sensata alteração no sistema tributário nacional, em vez de
negligenciar obrigações o melhor mesmo é minimizar o impacto fiscal com um bom
planejamento, para não acabar como o pobre Trifão que morreu sem conseguir uma
solução satisfatória para o confisco que lhe aplicavam.
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