ESPERAMOS QUE ELA CUMPRA


Penso que as primeiras palavras depois da eleição são significativas. Em 2006, um artigo meu publicado no O Jornal tratou assim este momento:

"Depois de aguardar o resultado das urnas num hotel em São Paulo, coisa que a esmagadora maioria dos trabalhadores brasileiros não tem condição de fazer, o candidato vitorioso proferiu seu primeiro pronunciamento num auditório cujo cenário de comemoração já estava preparado antes do resultado se confirmar. Dentre muitos ditos, Lula repetiu mais de uma vez que aprendeu muito e que está mais experiente. Afirmou que não só ele, mas todos do time aprenderam. Indiretamente, reconheceu o despreparo para governar em pleno governo. Como faz sempre, destacou suas realizações como se fossem as maiores e únicas da história do Brasil. Na verdade, apropriou-se da política econômica e dos programas sociais do governo anterior que tanto criticou. Continuando esta conduta, falou em crescimento econômico e emprego, uma das bandeiras de seu adversário na campanha, o que seria engraçado se não soasse cínico. Citando nada mais nada menos que José Sarney, algo impensado dado o que Lula pregava nos palanques da infância de sua vida pública, admitiu que ordens e decisões do presidente não chegam a ser realizadas em função da burocracia estatal, que ele nada fez para diminuir. Simploriamente, disse que agora o que for à sua mesa deverá ser cumprido, como se isso bastasse. "



Mas Lula é um mito. Ao longo dos seus 8 anos de governo, provou isso falando o que bem quis sem baixar a sua popularidade. Com Dilma é diferente apesar de ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Com um discurso bem mais estruturado, ela deu as diretrizes do seu governo como uma estadista. Agradeceu ao povo (não incluiu Deus na lista), reconheceu o avanço democrático na eleição de uma mulher e prometeu honrá-las em seu mandato, gerando mais oportunidades e igualdade entre os sexos. Valorizou a democracia e comprometeu-se com as liberdades, inclusive de imprensa e religião. Relembrou seu empenho para a erradicação da miséria e para o qual pediu o apoio de todos. Falou em abertura comercial, cuidados com a economia e a sua estabilidade, equilíbrio fiscal, queda na tributação e melhoria no serviço público, usando critérios da meritocracia. Mais de uma vez, citou a abordagem de longo prazo. Citou o fomento aos pequenos negócios e os resultados do pré-sal destinados aos benefícios do povo. Reafirmou compromissos de campanha relativos a qualificação da educação, saúde e segurança, e disse que vai  perseguir os compromissos que assumiu. 

Dilma estendeu a mão para a oposição e comprometeu-se a defender os ideais republicanos e o combate a corrupção. Finalizando, agradeceu também a quem na oposição, lideranças, equipes de trabalho, imprensa (dizendo que prefere o barulho da imprensa livre do que o silêncio da ditadura) e finalmente a Lula, quando emocionou-se. Lembrou que ele nunca estará longe e que será um desafio sucedê-lo. Dilma conclamou um governo de união. Serra por sua vez deu o tom dos próximos 4 anos ao afirmar que a luta pela democracia continua, dando a entender que vamos ter muito debate pela frente.

Espero que  Dilma realmente cumpra as suas palavras, reescrevendo uma longa história de políticos de todas as origens que esquecem o que dizem em seus pronunciamentos. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PROBLEMAS SISTÊMICOS PEDEM SOLUÇÕES ESTRUTURADAS

O QUE É A PATOCRACIA

QUEM CARREGA O PIANO ?