MAS O QUE É UMA PESSOA DIFÍCIL ?

Será que o conceito que as pessoas atribuem às outras, corresponde a verdade ou trata-se apenas de um rótulo atribuído para que justifiquem o seu egocentrismo? Por exemplo, quando um grupo chama uma pessoa de difícil, será que é mesmo ou seria uma forma deste grupo justificar a própria dificuldade com esta pessoa e esconder defeitos próprios ainda maiores? Vamos mergulhar nesse assunto.

Suponho que um problema matemático difícil, seja aquele mais complexo, que exige mais  conhecimento, mais esforço e concentração para encontrar a solução, mais tempo para concluí-lo. Um livro difícil seja aquele com linguagem mais rebuscada, palavras incomuns, as vezes com mais páginas, abordando assuntos que demandam mais do leitor. Um carro difícil seja aquele com mais comandos, com um processo para dirigir diferente do habitual, talvez uma direção mais pesada que necessite colocar mais esforço. Um celular difícil seria quem sabe um aparelho cujo manuseio necessite de mais toques, um endereço difîcil seria um local que precise de mais passos e caminhos para chegar. 

Todos estes exemplos nos dão boas pistas porque algumas pessoas são chamadas pelos outros de difíceis. Aquilo que é difícil exige mais concentração, mais empenho, mais dedicação, mais trabalho, mais entendimento, e mais conhecimento. Isto é avaliado de forma comparativa, em relação aos demais, e de forma subjetiva, em função da própria capacidade de corresponder à exigência ou vontade para isso. Desta maneira, torna-se relativo. Alguém tido como difícil para um grupo, pode ser perfeitamente fácil para outro. Como a avaliação é feita de forma comparativa, por tendência ou maioria, aquilo que é dificil é também algo diferente, incomum, não habitual. Aquilo que sai do padrão de quem avalia ou do grupo que rotula. E este rótulo é uma maneira de afastamento e exclusão. 

Aquilo que é dificil também tem esse conceito atrbuído em função da sua utilidade. Mas isso do ponto de vista de quem atribui este valor, e quase nunca de forma objetiva. Em outras palavras, se eu não consigo usar como queria, se aquilo não me é conveniente como gostaria, se não se adapta à minha maneira de ser, agir e pensar, então tem grandes possibilidades de ser taxado de difícil. Pessoas convenientes, úteis, acessíveis, simpáticas, coniventes, passivas, cúmplices, colaborativas, que abrem mão de seus pontos de vista rapidamente, tem poucas chances de serem chamadas de difíceis. Já o contrário, possui quase certa esta denominação. 

Neste contexto, alguém que tenha personalidade forte e caráter definido, tem boas chances de ser chamado de difícil se estiver convivendo com pessoas que não possuam condições para isso. Alguém que não transige em honestidade, alguém focado em seus objetivos, que não relativiza valores morais, que luta pelo que pensa, que segue determinados critérios, que busca coerência, por mais correto que possa ser, ou por melhor que estas características possam soar, pode acabar tendo que conviver com o estigma de difícil porque o grupo com o qual se relaciona, não aceita a sua forma de ser, e não aceita quase sempre porque isso contraria os interesses deste grupo. 

Sendo assim, a atribuição de difícil pode ser forma de esconder e disfarçar na verdade uma intolerância profunda. Pode ser uma maneira de tentar eliminar o objeto do conceito, seja ele um artefato, uma questão ou uma pessoa. E deste modo, trataria-se mais de um problema do grupo do que daquele que é alvo da titulação. Quando alguém chama outro de difícil, pode estar demonstrando na realidade, que ele é que está sendo egoísta, interesseiro, manipulador, limitado ou medíocre. Tudo isso, qualidades bem piores do que a dificuldade que pretende abominar. Talvez não existam pessoas difíceis. Talvez o que exista seja muita gente querendo que os outros sejam fáceis, para com isso tirar proveito desta condição.

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