CONCORRÊNCIA INVERTIDA

A corrupção é um mal endêmico no Brasil, presente em cada um dos 5.570 municípios brasileiros. Isso nós já sabemos. O que precisamos entender melhor é que quem rouba o dinheiro público tem uma lógica diferente da nossa. O faz sem o menor remorso e ainda se vangloria, achando que é a pessoa mais bem sucedida do mundo. É como se fosse um psicopata que não sente freio moral diante da atrocidade que comete. Não é um crime passional ou cometido em um ato impensado, num descuido ou esquecimento. Quem o comete, sabe o que está fazendo e muito comumente o repete quantas vezes for possível. Ele vem de falhas de caráter e não de um momento infeliz. Quem o faz pretende tirar vantagem sobre os demais. É um crime de ganância. 

De uma maneira geral,  situações assim,  somente se resolvem com Educação. Sabe aquela lição severa que o pai ou a mãe dão, quando a criança pega o que não é dela? Essa mesmo. Sabe aquele ensinamento de Moral e Cívica que ninguém mais vê na escola? Essa também. Sabe aquele sermão que o professor dava quando o aluno escamoteava? Também. Infelizmente, porém, os resultados são no longo prazo e estas lições são cada vez mais raras hoje em dia. Mas a corrupção tem um lado técnico, se é que podemos chamar assim. Ela é facilitada quando existem um conjunto de fatores que são bem evidentes no Brasil. Existe muito dinheiro nas mãos do Estado, muito mais do que na sociedade. Muitas cidades praticamente vivem do governo. O dinheiro público não tem dono, como tem o dinheiro privado. No Estado, é muito poder na caneta de pessoas sem estrutura moral para isso. O controle de todo o fluxo é falho, a prestação de contas também, e a responsabilização praticamente não existe, quer numa pequena cidade do interior ou na capital federal. O resultado é o vemos nas manchetes. Há uma espécie de pacto tácito para furtar o dinheiro que ninguém toma conta. E já que ninguém toma conta, esse pessoal vai lá, mete a mão, enriquece e fica por isso mesmo. E essa estória de que a população é quem deve fiscalizar, é uma lorota. A população não tem conhecimento, não tem tempo nem ferramentas para tal missão. Isto tem de ser feito pelos tribunais de contas e controladorias, pela receita e polícia federal, desde que sejam autônomos e habitados por gente que entrou por concurso, sem compromisso com indicação. Há de se ter uma legislação eficiente para zelar pelo dinheiro público. Há de se ter coragem de aplicá-la. As punições precisam ser pesadas, afinal um corrupto é na verdade um ladrão. E quando eles se tornam autoridades, as coisas ficam bem ruins. 

A corrupção é, sempre foi e sempre será, o maior concentrador de renda em um país. É naturalmente elitista, porque o dinheiro se destina a enriquecer poucos, somente aqueles que fazem parte da panela, que jogam o seu jogo, que compõem a rede de favores e conivência que a cerca. Quem não faz parte disso, não é convidado para o banquete. Em vez de compensar a inovação, o estudo, o trabalho, o esforço, a ordem, a honestidade e a contribuição para a sociedade, ela remunera a mentira, a enganação, a desonestidade, a falta de caráter, o crime, o roubo, a falcatrua e a concentração desonesta da riqueza produzida por todos. Não gera riqueza econômica, nem benefício social, porque o dinheiro comumente é estocado. Vai para contas suspeitas, patrimônio escondido, as vezes fora do pais, ou é lavado em empresas que em nada contribuem com a sociedade. Muitas estas empresas nem operam. Quando circula, acaba alimentando o submundo com mais corrupção. 

Dessa forma, ela é uma assimetria, uma deformidade que destrói a sociedade, pois recompensa aspectos não relacionados com a produção, com a eficiência, com a produtividade e com o desenvolvimento. Ela impede que o dinheiro chegue ao seu destino, beneficiando a população em vez de beneficiar os que se acham espertos. Por isso, não é só uma questão de desvio financeiro de finalidade. É uma questão de edificação de uma nação. Qualquer governo que preze o mínimo o povo sobre o qual é responsável, deve combatê-la incansavelmente até conseguir reduzí-la ao máximo. Qualquer sociedade que se preze deve repudiá-la, denunciá-la, execrá-la intransigentemente. Se permitirem que aconteça, despertam uma concorrência pelo crime e não pela construção de dias melhores, e pela excelência. Uma concorrência invertida.  

Não falta dinheiro no Brasil. É verdade. O país tem tanto dinheiro que a maioria da população não tem noção de quanto isso representa. Nós não seremos um país rico. Também dizem que é culpa do sistema. E falam que é preciso mudá-lo para as coisas melhorarem. Não é verdade. Contam isso para ficar mais fácil roubar. Nós já somos ricos. O que falta é inverter essa lógica sub desenvolvida e medíocre, de privatizar o dinheiro público com desonestidade. De compensar quem subverte e vive para ser amigo do rei. O que falta é punir forte e maciçamente os corruptos, criar mecanismos legais para isso, descentralizar cada vez mais o orçamento publico, aumentar a transparência, tornar o controle independente, fomentar o Empreendedorismo e fazer com que em vez de termos um Estado rico, corrupto, lento, enorme, caro e ineficaz, tenhamos uma Sociedade próspera com um poder público enxuto,  na qual o dinheiro circule entre o povo e  entre as empresas, gerando mais riqueza e crescimento, e não em um punhado de mãos sujas. A lógica tem de mudar. 

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