REPENSANDO JUROS COMPOSTOS
Se você pegar qualquer livro de
matemática financeira, ele vai apresentar dois regimes de capitalização. No
primeiro, os juros são calculados sempre com base no capital inicial aplicado. Isso
significa que eles serão uma constante. A variação será a quantidade de
períodos existentes. São os chamados juros simples. No segundo, os juros são
calculados sobre o montante do período anterior, incluindo a capitalização
feita. Desse modo, o valor aumentará na medida que o tempo passa, aumentando
cada vez mais m virtude do aumento do montante. São os chamados juros compostos.
No senso comum e nas salas de aula,
não é raro ouvir que o regime de capitalização simples é menos lucrativo que o
segundo, já que este último utiliza “juros sobre juros”. Mais ainda, as vezes
você poderá ouvir que isso seria uma invenção ardilosa do mercado financeiro
para ganhar mais dinheiro às custas dos cidadãos inocentes. Talvez tenha sido
essa preconcepção que tenha fundamentado a dificuldade da Justiça Brasileira em
aceitar o regime de capitalização composta. Uma rápida pesquisa na internet,
demonstrará uma série de decisões, opiniões e abordagens diferentes sobre o
mesmo tema. Há quem diga inclusive que juros compostos são ilegais. Eles seriam
produto da usura ou do desejo de enriquecimento ilícito.
Acontece, que os dois regimes de
capitalização devem ser vistos sem atribuir conceitos morais sobre eles, mas como
ferramentas técnicas aplicáveis em situações diferentes. Não se pode portanto
comparar diretamente duas coisas cuja aplicabilidade seja distinta. Seria a mesma
coisa que falar um alicate é melhor que uma chave de fenda, quando ambos servem
para coisas e situações diferentes. A comparação entre assuntos dessa maneira
certamente aumenta a probabilidade de enganos, as vezes bastante relevantes.
Partindo-se do princípio que os
juros são a remuneração do capital, considerando o risco e o tempo para
reavê-lo, podemos enxergar melhor as situações onde se adequam estes dois
regimes de capitalização. Com os juros sendo calculados sempre sobre o montante
inicial, o regime de capitalização simples funciona como se o rendimento seja retirado
ou pago continuamente, permanecendo de saldo sempre o capital inicial. As situações
em que isso acontece, a aplicação desse regime me parece adequada, apesar de
não ser muito comum nem usual. Já os juros compostos seriam adequados em
situações onde o rendimento não é retirado ou pago, incorporando-se ao capital.
O saldo final de um período formado de capital e juros, seria o saldo inicial
do período seguinte. Na verdade, não é juros sobre juros. É juros sobre um
capital crescente, pois o rendimento não foi subtraído.
Esse raciocínio fica mais claro de
perceber quando imaginamos um investimento financeiro feito por nós. Imagine
que você aplica R$ 1.000,00 na poupança que está remunerando a uma taxa 0,50%.
Ao final do primeiro mês você teria R$ 5,00 reais de rendimento e não retiraria
este dinheiro. O que você diria se o banco considerasse os mesmos R$ 1.000,00 e
não R$ 1.005,00 para o próximo cálculo? O que você preferiria? Na verdade, os
R$ 5,00 mudaram de papel de um mês para o outro. No primeiro, foram resultado dos
juros. No segundo, se incorporaram e passaram a ser o capital inicial. Não me
parece haver nada de errado nisso. Mas ao inverter a situação, nos colocando na
posição de pagadores, muita gente tem dificuldade de concordar com este regime.
Dois medidas para o mesmo peso.
O fato é que este assunto, assim
como muitos outros no universo financeiro, foram popularizados sem que nisso
houvesse um conhecimento e reflexão acerca do cálculo. Muitas vezes as pessoas
apenas repetem o que ouvem e não conhecem a fundo o assunto. A matemática
financeira é uma ferramenta como qualquer outra. Com ela é possível resolver
problemas variados e encontrar soluções justas e adequadas, desde que os dados
estejam corretos e as premissas sejam razoáveis. Ela não é um artifício diabólico
para lesar as pessoas, mas sim um método que pode promover a justiça.
Interessante como problemas sistemicos podem estar em todas as áreas da vida, não só na economia, mas na política, na sociedade como um todo. Penso que o mundo está ficando cada vez mais complexo com esta cadeia de relações. E nós não percebemos, como isto nos está afetando. Em todos os campos sociais (saúde, educação, etc) é urgente a necessidade de profissionais que possam ver o indivíduo como um todo. Já está na hora de passar da era das especializações das partes, para a era da especializações do todo.
ResponderExcluirGostei muito de sua explicação! Obrigada, foi útil.