O VÍCIO DE DESQUALIFICAR
Desqualificar é tornar indigno de
respeito e consideração, é inutilizar, tirar a credibilidade, comprometer a
confiança e o bom conceito. Retirar a fé. Quem é desqualificado deixa de ser
recomendado, de ser acreditado, de ser considerado, de ser respeitado. Quem é
desqualificado é neutralizado, isolado, e mais facilmente pode ser derrubado,
retirado e aniquilado. A desqualificação é na verdade uma tática para
dissimular a atenção do que realmente interessa. Ela é bastante usada no meio
judicial tanto pela defesa como na acusação. Sem muita dificuldade, podemos ver
habilidosos advogados esforçando-se em desqualificar as provas, as testemunhas,
o processo, o contrato, a justiça e o que mais puder ser desqualificado. Também
podemos ver políticos fazendo coisas semelhantes. Desqualificam os autores das
perguntas, a legitimidade do assunto, o sistema, os adversários e o que mais
puderem. Quem desqualifica está tentando sair de uma zona que não lhe é
interessante para outra mais adequada. É simplesmente um procedimento
intermediário que esconde a verdadeira finalidade. Em nada contribui para real
resolução do problema. Quem desqualifica quer justificar alguma coisa. Quer uma
cortina de fumaça para encobrir algum erro que cometeu, alguma falha, alguma incompetência,
algum projeto, alguma pretensão que não pode ser revelada. É na verdade um jogo
de poder. É na verdade o argumento daqueles que não possuem argumento. A
entrega de quem não entregou o que era preciso. A desculpa de quem devia ter
feito. Desqualificar virou uma febre no Brasil e é muito comum no cotidiano
corporativo.
Isso porque as entregas por aqui
são um verdadeiro inferno. O setor de serviços está infestado e o funcionamento
interno das empresas mais ainda. Dificilmente você recebe aquilo que pediu e
precisa, da maneira que pediu, na hora que pediu, na forma que combinou, no
prazo que solicitou. E você não consegue fazer nada sozinho. O fato é que mesmo
que seja organizado, vai sofrer com a desorganização alheia. Mesmo que seja
pontual vai sofrer com o atraso do outros. Mesmo que seja responsável vai penar
com irresponsabilidade que quem lhe presta serviço, mesmo que seja verdadeiro,
vai ter que lidar com a mentira, mesmo que queira ser melhor vai ser limitado
pela mediocridade dos que estão em volta. O meio faz o homem. E dessa maneira o
país vai gastando fortunas para fazer o que outros povos fazem com bem menos. A
empresa vai sendo travada e ninguém sabe o porquê. Vão atolando-se na lama do
comodismo e da prepotência e essa é uma combinação perigosa. Quando você não
tem coragem para ser mais dinâmico e acha que sabe de tudo, ou sabe mais do que
o outro, normalmente causa muitos problemas para si e para os demais. Os
resultados caem. E o brasileiro é mestre nisso. Está como que viciado nisso. Quer
um exemplo com a marca nacional? Éramos os primeiros no ranking da FIFA, hoje
estamos em 19º lugar e tem gente que acha que somos o país do futebol! Acham
que jogamos melhor? Só olham para o próprio umbigo e negam o mundo à sua volta.
Todo vício é uma fuga da realidade. Todo vício leva você para o fundo do poço.
Em vez de desqualificar, as
pessoas deveriam tentar se melhorar. Resolver o problema e não ficar
escamoteando, sujando o trabalho alheio, tentando esconder debaixo do tapete
para se garantir. Não sabe resolver? Devia ter humildade e aprender. Não pode
resolver? Devia pedir ajuda. Não quer resolver? Então devia deixar de
atrapalhar quem quer. Quando você faz o seu trabalho de maneira correta, quase
sempre vai incomodar alguém que não fez o seu mesmo que nunca tenha sido a sua
intenção. E esse alguém vai tentar desqualificar o seu trabalho e você para que
não apareça a porcaria dele. Vai tentar diminuir a importância dizendo que já
sabia. Se sabia porque não fez? Vai tentar dizer que não fez por causa de algo
que o impediu. Vai até dizer que foi você que impediu! Se não fosse trágico
seria até engraçado. Enquanto no Brasil essa for a forma mais comum de lidar
com os problemas, seremos sempre um país cheio deles. Enquanto as empresas
admitirem essa forma de se conduzir em seus colaboradores, elas serão sempre
pequenas mesmo que seu patrimônio seja grande. Está na hora de fazer diferente!
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