FINANÇAS E ÉTICA


 
Por causa das informações que recebemos e do nosso desconhecimento no assunto, muitas pessoas são levadas a crer que as finanças necessariamente possuem relação com enrolação e desonestidade. Os escândalos, as crises de governos e das empresas, noticiadas com alarde, contribuem involuntariamente para a formação de um senso comum que aponta para esta atividade, todos os males da sociedade. Não é a toa que agencias bancarias são alvos de depredações e atos de vandalismo por manifestantes incontidos, personificando erroneamente para eles todo o sistema financeiro.
 
 
Esta noção equivocada, também pode ser alimentada pelos exemplos desconexos entre competência técnica e conduta moral, que alguns expoentes do mundo financeiro protagonizam.  Um bom exemplo podemos encontrar no caso de Michael Milken, ícone das finanças dos anos 80, por causa de suas operações com títulos de risco no financiamento de aquisições de empresas no mercado norte americano. Capaz de fornecer um conceito interessante da atividade financeira, quando intitulou um artigo seu com a seguinte sentença "As Finanças são a arte e a ciência de sustentar o crescimento, gerar riqueza e criar empregos", também foi capaz de confessar que usou informações privilegiadas, sendo condenado ao pagamento de multas milionárias e alguns anos na prisão. Lá as coisas funcionam. 

Sem problemas de conduta conhecidos, o conceito do prêmio Nobel de economia de 2013, o também americano Robert Shiller, nos chega também de maneira esclarecedora quando defende que as "Finanças são a ciência da arquitetura dos objetivos. Os objetivos podem ser os das famílias, dos pequenos negócios, das grandes empresas, das instituições civis, dos governos e da sociedade em si.", apontando na direção de que trata-se de uma ferramenta bastante útil para a prosperidade em todos os níveis. Concordo com ele plenamente e saliento o detalhe da arquitetura financeira para a realização dos objetivos. Seria como o caminho prático e concreto para realizar o que está no abstrato futuro.  Muito verdadeiro e necessário. 

Na verdade, seja no campo da pesquisa acadêmica, seja no campo da produção editorial, na atuação nos mercados, nos estabelecimentos que integram o sistema financeiro, ou na gestão financeira das empresas, ou nas finanças pessoais, o vínculo desta atividade com a ética não pode ser desfeito. Primeiro porque a confiabilidade é fundamental para ela. E confiança nos números, nos contratos e nos procedimentos, se constrói com ética. Depois, porque alguns fundamentos financeiros, tais como compliance e accountability, estão intimamente relacionados com a ética. Finanças e ética são indissociáveis, e não podemos julgá-las pelas assimetrias que existem, povoando o imaginário preconcebido das nossas cabeças, mas sobretudo pela possibilidade que elas têm de melhorar a vida das pessoas em todo planeta.


Artigo de minha autoria publicado originalmente no portal ADMINISTRADORES.
 
 
 

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