EXCESSO DE LEGISLAÇÃO PREJUDICA O DESENVOLVIMENTO


Podemos deduzir que quanto mais simples as coisas forem, mais rápidas, mais fáceis e menos dispendiosas elas serão. Qualquer pessoa de bom senso pensaria assim e procuraria o caminho da simplificação como uma forma de facilitar o alcance do resultado. Na matemática, simplificar é um recurso importante para resolver problemas e chegar à solução. Em um corriqueiro deslocamento na cidade, buscamos o caminho mais curto para chegarmos ao destino. Mas esta lógica óbvia e razoável parece que não habita no raciocínio daqueles que fazem o Estado brasileiro.

Recentemente, um amigo contabilista fez chegar ao meu conhecimento uma interessante matéria sobre a quantidade de legislação produzida no Brasil, e os números beiram a completa insanidade. A partir da promulgação da Constituição de 1988, foram editadas mais de 4 milhões e 700 mil normas, entre medidas provisórias, leis complementares e ordinárias, emendas constitucionais e decretos.  O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) estima que nestes 25 anos foram exatos 4.785.194 atos reguladores oficiais até 30 de setembro de 2013. Isso corresponde a 191.408 normas por ano, ou 524 normas por dia, sendo humanamente impossível alguém acompanhar esta avalanche regulatória.  Neste cenário, torna-se muito difícil alguém não infringir um dispositivo legal, muito mais porque não poderá alegar que não o conhecia, pois existe a presunção e a obrigatoriedade do conhecimento da lei em nosso ordenamento jurídico.  Esta quantidade de artefatos normativos, aumenta a probabilidade de incoerência, de conflitos e litígios, assim como, a dificuldade de compreensão e de cumprimento. O volume é tanto que é possível se perguntar se o Estado faz isso por incompetência ou de forma intencional, para fomentar a sua arrecadação e manter a sociedade contra a parede sempre à margem da lei. 

Isso porque, na questão tributária específica, a situação é a mesma ou pior.  Do total de normas editadas nestes anos pós constituição, 6,5% foram de normas tributárias, o que resulta na espantosa soma de 309.147, numa média de 34 por dia. Isso demonstra o avanço de um Estado caro e ineficiente, sobre a renda das pessoas físicas e jurídicas. Ele arrecada para manter mordomias e financiar projetos duvidosos, enquanto que os serviços públicos estão em gritante deterioração.  

O mau uso do nosso dinheiro e a ineficácia estatal, encontram-se presentes inclusive no próprio ato de legislar, pois destas mais de 300 mil leis tributárias editadas, somente 23.412 estavam em vigor em 1o de Outubro de 2013, ou seja, 92,4% não existem mais e portanto é bem provável que poderiam nunca ter existido.  Mesmo assim, o IBPT estima que as empresas brasileiras precisam observar o total absurdo de 3.512 normas tributárias para evitarem multas e prejuízos, gastando em média 45 bilhões de reais por ano, com pessoal, tecnologia e equipamentos somente para isso. 

A simplificação do sistema legal brasileiro, é uma necessidade imperiosa se quisermos um país moderno e funcionando bem. Outrossim, a imposição de limites ao poder regulador do Estado, é condição fundamental para a preservação da liberdade individual, da cidadania, e sobretudo do desenvolvimento empresarial, nossa verdadeira alavanca para o progresso.

Artigo de minha autoria publicado originalmente no site da ANEFAC-SP
 http://www.anefac.com.br/paginas.aspx?ID=705

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