O NOSSO SUPREMO DUELO


 
 
 
O nome Joaquim tem origem bíblica e significa aquele que Deus elevou ou exaltou. Dizem que indica uma pessoa firme e segura e que age sempre de maneira leal. O nome Ricardo tem origem anglo-saxônica, alguns acreditam também numa origem germânica, e significa aquele que é um senhor ou um rei poderoso. Quando os pais escolhem os nomes de seus filhos, dificilmente eles imaginam que essa escolha vai influenciar no futuro deles, tão pouco que o significado do nome escolhido pode acabar revelando em algum momento a natureza da pessoa. Em alguns casos, entretanto, isso pode acontecer e na verdade está acontecendo no Supremo Tribunal Federal em Brasília, no seio do planalto central.

Ambos usam capas, como se estivessem fazendo referência inconsciente aos super-heróis que conhecemos nos gibis e depois nas telas do cinema. Na verdade, eles usam uma indumentária chamada de Toga, própria de um magistrado no alto de sua sabedoria jurídica e competência, no exercício do cargo máximo da carreira de juiz. Espera-se deles que julguem os litígios segundo as leis, sem colocar interesses escusos e pessoais acima do processo. Ambos possuem a mesma missão, mas ocupam lugares distintos. De uma lado, um negro. Negro como foram os escravos capturados e trazidos á força para trabalhar nas lavouras da colônia portuguesa, vivendo sem cidadania e sem dignidade. Negro, como os esquecidos pelo Estado após a abolição da escravatura, que ficaram sem saúde e sem educação, sem oportunidade de melhorar de vida. Negro, como a maioria que vive em estado de pobreza nos dias atuais. Negro, como o personagem das piadas jocosas e alvo do preconceito que credita à cor da pele e a aparência, alguma relação com o caráter. Negro com a aparência sisuda, de origem humilde, que estudou na escola estadual Dom Serafim, que trabalhava de dia e estudava à noite, que conseguiu chegar ao mais alto posto do STF. Do outro lado, um branco. Branco, como os nobres europeus ditos de sangue azul, com seus modos refinados. Ele realmente parece um. Branco que estudou em boas escolas e universidades como a maioria dos brancos brasileiros. Branco, com sobrenome incomum diferente dos Silva, dos Santos, dos Barbosa, dos Almeida que existem por aí. Branco, como a greve disfarçada e dissimulada mas que afeta o funcionamento. Branco, como a chapa dos carros governamentais e os atos que apesar de disfarçados, estão na verdade a serviço do governo. As cores nada significam diante do conteúdo.

Iguais na função pública, são diferentes mesmo é na postura. Ricardo Lewandowski pergunta para que a pressa. Joaquim Barbosa responde que é para fazer o trabalho deles. Em mais uma etapa deste duelo, os oponentes se revelam. Ricardo deseja a lentidão que gera a impunidade. Joaquim anseia que a justiça seja rápida e incisiva. Quem poderia imaginar este embate? Um homem rude contra um homem refinado, que sem querer representam o povo e a elite, que com suas palavras praticamente falam pela coletividade, que com suas histórias e atitudes estão se comunicando com o inconsciente moral de uma nação inteira. Os pais de Joaquim e Ricardo não imaginaram jamais que um dia os dois estariam duelando na mais alta corte do país, enquanto uma nação inteira assiste e aguarda o resultado. Nunca imaginaram que o destino do Brasil pudesse estar ligado aos dois. Se Joaquim perder, terá sido uma derrota da nossa esperança por dias melhores. A vitória de Ricardo será mais uma pá de terra no país de vergonha que desejamos. Por outro lado, se Ricardo perder será apenas um acidente e eles continuarão tentando. Mas a vitória de Joaquim será um marco na vida nacional. Será uma lição inesquecível. Será, enfim, a nossa tão sonhada, sofrida e justa vitória. Ainda bem que ele está lá.

 


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