7 ESTRATEGIAS PARA INADIMPLÊNCIA
No último dia 5 de Julho, tive a
grata satisfação de falar um pouco sobre estratégias para combater a
inadimplência no Seminário Alagoano de Escolas. Neste post, repasso parte do
conteúdo que apresentei aos presentes.
No contexto eminentemente
financeiro e gerencial, inadimplência é o descumprimento de uma obrigação certa
após o seu vencimento. Ou seja, trata-se de atraso na obrigação. Desta forma,
no dia útil seguinte ao prazo acertado, já temos configurado o
inadimplemento. É diferente de
insolvência, que refere-se a incapacidade do devedor honrar a sua dívida e de
perdas, que relaciona-se com o reconhecimento da receita não recebida como
despesa, afetando o resultado do negócio.
A inadimplência é um fenômeno
muito comum e crescente no Brasil. Os motivos estão relacionados com a crise
econômica, onde tivemos muitas facilidades ao crédito aumentando o
endividamento das famílias, inflação e desemprego reduzindo a renda da
população. Todavia, eles também estão num traço cultural brasileiro de deixar o
atendimento das obrigações para ultima hora e não ter planejamento financeiro
pessoal. Tudo isso concorre para potencializar a inadimplência.
Indicadores do Serasa Experian, a
principal instituição de monitoração financeira no país, apontavam que em
Março/16, tínhamos no 60 milhões de inadimplentes. Isso representa 41% da
população acima de 18 anos. Vale ressaltar que as pessoas com renda até 2
salários mínimos representam 77% deste montante. São 256 bilhões de reais em
dívidas não quitadas no prazo.
Mas esta situação não está
somente relacionada com pessoas físicas. Do outro lado, as empresas também
estão sofrendo com isso. O Serasa informa que em Junho/16, cerca de 4,4 milhões
de empresas estavam negativas, o que corresponde a 55% do total de empresas
brasileiras que somam 8 milhões. O comércio e a prestação de serviços respondem
por 45% cada e a indústria somente com 9%. Por ter um número maior de empresa,
o Sudeste tem 51% deste montante, mas o Nordeste vem em segundo com 18%,
seguido de perto pelo Sul com 17%.
Em Maceió-AL, a situação é ainda
pior. A pesquisa da Fecomércio, informa que nos últimos 12 meses, a contar
de Maio/16, o percentual de endividados na cidade esteve sempre acima de 61%.
Em Janeiro, chegou a 69% com 20% de insolventes neste conjunto. O cartão de
crédito responde por 85% deste endividamento. Mais da metade dos endividados,
estão com alguma conta atrasada por até 90 dias, e somente 10% por até 30 dias.
Praticamente metade dos endividados estão com até 50% da renda comprometida e
somente 20% estão com até 10% de comprometimento.
O Sindicado dos Estabelecimentos
de Ensino do Estado de Alagoas alerta desde 2013 que a inadimplência escolar
por aqui encontra-se acima da média nacional de 20%, chegando a 30% em alguns
casos. Em 2015, reiterou o informe nos mesmos patamares. As consequências deste
fato são enormes. O dinheiro que não é pago, falta no caixa das escolas, que
por sua vez precisam arcar com altos custos fixos para manter a operação. Para
compensar, elas recorrem ao capital de terceiros nos bancos, ou seja,
endividam, ou os proprietários precisam injetar dinheiro. Os investimentos são
reduzidos ou contidos, e a qualidade é comprometida. Empresas com estes perfil,
correm riscos de inviabilidade. Fechar uma loja, certamente traz muitas
consequências negativas para a sociedade. Mas creio que fechar uma escola, traz
muito mais.
Para combater a inadimplência,
recomendo 7 estratégias. Vamos a elas.
1 – Monitoração
Você precisa medir e acompanhar a
inadimplência do seu negócio. Precisa saber quando as pessoas estão pagando e
quanto estão deixando de pagar. Isso precisa ser feito no mínimo mensalmente. E
você também precisa ter uma série histórica para saber se isso está aumentando
ou diminuindo ao longo do tempo. Aquilo que não se mede, não pode ser
melhorado. Não apure a inadimplência de cabeça ou conte com o achismo. Faça o
dever de casa e comece a medir hoje mesmo.
2 – Cobrança
Da mesma maneira que quem não
mede, não melhora, considere que quem não cobra não recebe. Sua empresa precisa
ter um protocolo de cobrança bem definido. Isto não pode ser feito
ocasionalmente quando o dinheiro falta na conta. Precisa haver uma rotina com
alguém responsável por executá-la. Este procedimento deve ser escrito e bem
definido, informando o que deve ser feito e quando deve ser feito.
Por exemplo, é preciso definir se
a empresa vai entrar em contado com o cliente antes do vencimento para lembra-lo
da obrigação e como vai fazer isso. Se vai fazer por escrito ou verbalmente.
Após o vencimento, é preciso definir se vai repetir o procedimento, se vai
mandar uma carta de cobrança cumprindo os requisitos da legislação, e quando o
caso será enviado para um escritório jurídico para cobrança judicial. Ou se será
contratada uma empresa de cobrança para este fim.
A cobrança precisa também ser
monitorada para como uma atividade estratégica. Para isso é preciso adotar
alguns indicadores chamados de índices de recuperação de créditos. Você precisa
saber quantas abordagens foram feitas e quantas foram bem sucedidas. Precisa
saber quanto foi recuperado em relação ao total em atraso. E também precisa
estabelecer metas para os dois enfoques.
3 – Inventivos
Você precisa incentivar o cliente
a lhe pagar em dia. Isto pode ser feito de várias maneiras. Uma delas é
estabelecer contratualmente e cobrar efetivamente encargos de mora, que podem
ser multa, juros e correção monetária. Se você abre mão destas verbas, está
indiretamente incentivando o atraso. Se tiver de abrir mão, abra mão dos juros
mas nunca da correção monetária, garantindo o poder aquisitivo da quantia que
você não recebeu.
Outra forma de incentivar a
pontualidade no pagamento, é utilizar descontos para o pagamento em dia. Os
incentivos financeiros são bons mas não são os únicos. Brindes, prêmios,
serviços adicionais, podem ser usados também. Neste ponto, o foco é oferecer benefícios para
os bons pagadores, favorecendo uma espécie de cadastro positivo.
4 – Relacionamento
Procurar o cliente somente para
cobrar e receber dinheiro é um mau negócio. Por isso, você precisa criar
relacionamento com ele. E isso significa construir vínculos. Regularidade, boas
experiências e tempo são fundamentais neste aspecto.
Mostre os serviços que você
presta, a satisfação de quem os recebe, use as redes sociais, comunicados, cumprimente
no aniversario, felicite nas datas significativas, e procure ser lembrado pelo
cliente. O objetivo aqui é fazê-lo ter boas lembranças de você na hora que
estiver decidindo quem vai pagar. Se você consegue formar este conceito junto ao
seu cliente, ele estará menos inclinado a faltar com o pagamento.
5 - Negociação
A primeira coisa que é preciso
fazer para negociar é certificar-se se você quer mesmo fazer isso e o quanto pode
fazer. Jamais entre numa negociação sem definir seus parâmetros para ela. A
pior coisa que pode acontecer, é chamar de negociação um evento que mais tem a
ver com imposição.
É preciso ter abertura para
negociar e criar as ocasiões para isso. Mutirões de conciliação são uma boa
alternativa para quem tem muitos devedores, mas cuidado para não acostumar as
pessoas só pagarem neles. Tudo depende das facilidades que você oferece.
6 – Otimizar a Carteira
Sim, você precisa considerar uma limpeza
na sua carteira de clientes ao longo do tempo, livrando-se dos maus pagadores e
ficando com aqueles bons pagadores. Não renove contratos com quem não paga
direito. Não venda para quem não paga. Não adianta ter faturamento e ter 30% de
inadimplência.
7 – Gestão Financeira
Por fim, você precisa ter
estruturada a sua gestão financeira. Ter uma mesa no canto da sala, com uma pessoa
pagando tudo que chega não atende. Você deve ter um setor organizado antes de
tudo, com um sistema funcionando e bem alimentado.
Para ter uma boa gestão
financeira, você precisa ter um fluxo de caixa, mapeando seus recebimentos e
desembolsos e dizendo quando vai faltar ou sobrar dinheiro, precisa ter um DRE
gerencial para informar o quanto seu empreendimento produz de lucro, precisa
ter um balanço financeiro para saber o que tem de imobilizado, contas a pagar ,
receber, estoques e disponibilidades. E se você puder contar com boas informações
de custos e uma política orçamentária, estará em um patamar acima da média nos parâmetros
brasileiros.
A boa gestão financeira lhe fará
lidar melhor com a inadimplência, tomando medidas preventivas e corretivas.
Estas 7 estratégias precisam ser utilizadas em
conjunto, atuando com sinergia sobre o problema. Isoladas, elas não são
suficientes para saná-lo de maneira satisfatória. Você precisa agir em todas
estas frentes, pois a inadimplência é um resultado de vários fatores e não vai
cair de uma hora para outra, como um milagre. Não fique parado esperando soluções
do governo, da legislação ou das autoridades. Se elas vierem ótimo.
Independentemente, tome as providências internas para preservar a sua escola.
Pois escola também é empresa. E o país precisa delas para ser um lugar melhor.
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