O LUCRO NÃO VEM DA MAIS VALIA

Há 166 anos atrás, o mundo era bastante diferente do que é hoje. As ruas e as casas eram iluminadas por lampiões. A comunicação à distância era predominantemente feita por carta. Não existia sabonete nem termômetro. A música só podia ser escutada ao vivo. 
O progresso começava a ser puxado por locomotivas, navios e máquinas a vapor. O carvão era a principal fonte energética. Não existia radiografia. Cortinas e tapetes eram luxo. Não havia rede de esgotos. Eram comuns epidemias de 
cólera, varíola, escarlatina e tifo. Não existiam vacinas nem antibióticos. As pessoas andavam de carruagem. As mulheres vestiam-se com vestidos longos e cheios de saias. Não existiam relógios de pulso. Os  homens andavam de terno, usavam chapéus, bengalas, e em alguns países ainda havia escravidão.

Foi nessa época, que um alemão conhecido como Karl Marx elaborou suas teorias sobre como a vida das pessoas deveria ser. Trabalhando mais em jornais do que na cátedra universitária, publicou suas idéias influenciadas pelos movimentos sociais da época, e pelas condições de carência material de sua vida pessoal, na qual viu falecer 4 de seus 7 filhos. Morando em Londres, capital do Império Britânico e berço da era em que a humanidade vivia e do que ele criticava e pretendia extinguir, Marx via as fábricas e as chaminés de uma maneira bem peculiar. Na sua percepção, os empreendedores eram meros capitalistas, figuras desumanas que veneravam o dinheiro mais que qualquer coisa. O que chamamos hoje de classe média e alta, Marx chamava de burguesia e a ela atribuía características tão quanto pejorativas. As vitimas inocentes, explorados e expropriados, eram os trabalhadores, a quem chamava de proletários. Para ele, essa forma abominável de organização social estava fadada ao fracasso, e o antagonismo destas classes levaria necessáriamente à falência do que chamou de capitalismo.  Mesmo assim, defendia a organização da classe trabalhadora para a tomada do poder, implantando um mundo onde só existiria o Estado como senhor. Ao enaltecer a ditadura do proletariado, de certa forma, Marx defendia a volta do absolutismo político e econômico típico das monarquias feudais, algo que a humanidade tanto havia lutado para afastar. Também parece encarnar um certo antagonismo germânico, tendente ao totalitarismo que acabou gerando mais tarde o nazismo de Hitler, ao extraordinário desenvolvimento liberal inglês após a revolução industrial. Uma rivalidade que também vinha de sua vivência pessoal, afinal ele era um alemão pobre que morou na cidade onde haviam os ingleses mais ricos do ocidente.

Esta vontade de sobrepor seu rival, unida à limitação de uma visão parcial do mundo que o cercava, infelizmente fez Marx ignorar os avanços descomunais que o sistema tão criticado proporcionou. Ao dividir o trabalho, utilizar máquinas, aumentar a produtividade, a livre iniciativa baixou os preços dos ítens e proporcionou uma distribuição de benefícios descentralizada jamais vista na humanidade. Resultado das melhorias nas condições de higiene, alimentação e saúde, a população europeia praticamente dobrou de 200 para 400 milhões de pessoas, naquele século. Aquilo que antes só era reservado à nobreza, chegava nas casas da população plebéia. Inclusive informação. Obcecado pelas fortunas e por questões políticas, ele não viu que a sociedade melhorava como um todo. 

Para fundamentar sua construção intelectual, Marx utilizou-se de vários recursos relacionados com história, sociologia, filosofia, economia e política, e dentre eles um chamado de Mais-Valia. Nele, o lucro das empresas, seria baseado na diferença entre o valor final da mercadoria, que hoje chamamos de preço de venda do produto, e o valor dos meios de produção e do trabalho, neste caso os salários. No objetivo de maximizar o lucro, o capitalista acabaria por reduzir salários, gerando menos renda e poder de consumo, residindo aí uma das crises intrínsecas e motivos do esgotamento do sistema. O lucro seria resultado então da exploração do trabalho alheio. Este é um dos pilares marxistas, porém esta ideia é insuficiente para explicar o fenômeno da lucratividade empresarial, pois desconsidera muitos outros componentes que concorrem para o mesmo resultado. Muitos deles mais determinantes do que a famosa diferença entre preço e salário. Ao reduzir a formação do lucro a este único fator, Marx foi tendencioso para servir a sua causa e viu as empresas como um sistema financeiro imperial, meramente extrativista, sem enxergar as conexões destas situações. Ele não viu o mercado. 

O lucro é claramente a parcela que sobra da receita, após deduzidos os gastos, nos quais estão inclusos os salários. Mas esta parcela excedente não veio dos gastos, mas sim da receita que possui um montante maior na equação. Sem receita não há lucro.  A receita é conseguida com a venda. Havendo margem positiva, quanto mais venda, mais lucro e vice versa. Por sua vez, o volume de vendas está diretamente relacionado com o benefício e a utilidade que o produto proporciona a quem compra. Quanto maior, maior será o volume. Sendo ela uma troca de dinheiro pelo o que a empresa entrega, em situações normais o lucro na verdade está diretamente ligado ao volume de vendas, que por sua vez depende do mercado. De fato, uma variação na receita que é formada da multiplicação do preço pela quantidade, causa muito mais impacto no lucro do que uma variação nos gastos onde estão os salários.  Nenhuma empresa cresce ou sai da crise somente reduzindo salários. Ela faz isso, aumentando o seu faturamento. Quem gera o lucro por conseguinte é o mercado, sem o qual nenhum salário é capaz de gerá-lo. Muito antes de Marx, Adam Smith já dizia isso, mas muitas pessoas preferem acreditar no que desejam, não no que realmente as coisas são.  A quantia do lucro está nas mãos do cliente e não nas mãos do trabalhador. Outra coisa que Marx propositalmente não viu, foi que o lucro não fica guardado no colchão, satisfazendo à cobiça doentia que ele imaginou. Ele é reinvestido no crescimento do próprio negócio, em outros empreendimentos, ou injetado no sistema financeiro que por sua vez, empresta-o a outras pessoas e projetos, numa espiral de distribuição de renda e melhoria. 

As ideias contaminam feito virus, e assim como hoje ocorre na internet, viralizam sem necessariamente serem construtivas. Antes da rede, funcionava da mesma forma. O Frankenstein criado por Marx para rivalizar com a evolução natural e histórica da humanidade, na sua incansável busca por melhorar as condições de vida, democratizar o acesso a riqueza e descentralizar o poder, ainda contamina muita gente até hoje, mesmo que o modelo marxista tenha falhado em todos os países em que foi implantado, implantação esta às custas da desgraça de milhões e milhões de pessoas. Marx criou um monstro que segrega, divide, atrasa, mata, fabrica ditadores horrendos, produz fome, guerra, repressão, que serve a interesses de manipulação e àqueles que somente desejam fazer o que ele tanto aparentemente condenava. Mas talvez, ele só quisesse melhorar de vida, ter uma casa mais confortável, dar melhores condições aos seus filhos, quem sabe ter um jornal bem sucedido e com o lucro, financiar sua vocação para literatura ficcional. Como não sabia como fazer, como não entendeu direito as oportunidades e como as coisas funcionavam, enveredou pela aventura de tentar criar um mundo vermelho em vez de melhorar o que já existe. Mundo este que por sinal, é uma bonita bola 
azul. 

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