EMPRESAS À FRENTE DAS FAMÍLIAS
Nós temos mais de 19 milhões de
empresas abertas no Brasil, mas o Serasa estima que somente 8 milhões estão
realmente em operação. Pelos registros, 48% são prestadoras de serviços, 38% são
comércios, 7% indústrias e 5% agronegócios. Menos de 1% destas empresas são
Sociedades Anônimas, as conhecidas S/A que possuem o capital distribuído na
forma de ações negociadas em bolsa ou não, 2% são EIRELIs, 28% são por cotas de
responsabilidade limitada, que chamamos de LTDAs e os outros 57% são as recém
criadas MEI. Os negócios em maior quantidade
no Brasil são varejo de roupas e acessórios, mercados, cabelereiros,
lanchonetes, restaurantes, obras, serviços de transporte, bebidas, bares e
cosméticos, nesta ordem.
Praticamente 90% destas empresas
são familiares, ou seja, estão sob a condução de uma ou mais famílias, pessoas
que possuem algum laço de parentesco. Apesar de 80% das empresas familiares brasileiras
conseguirem crescer mais do que a média mundial, somente 30% delas chegam na
segunda geração, ou seja, conseguem que os filhos assumam o comando, e somente
5% chegam na terceira geração com os netos capitaneando as operações. As
empresas familiares representam cerca de 65% do PIB brasileiro, empregam 75% da
força de trabalho e mesmo diante destes números relevantes, 45% não possuem
qualquer plano de sucessão que na verdade significa um plano de sobrevivência. A
Price Waterhouse fez uma pesquisa com 121 empresas familiares brasileiras em
2014, sendo 40% exportadoras. Ou seja, são grandes empreendimentos. Elas
declararam que seus objetivos são manter-se no negócio e aumentar a lucratividade,
80% reconheceu a necessidade de adaptar-se ao ambiente digital e só 31%
reconheceu a necessidade de atrair e reter talentos, 71% se preocupava com
inovação mas apenas 30% faz alguma coisa prática neste sentido, 46% reconheceu o
desafio de se profissionalizar e somente 11% possui um plano de sucessão estruturado.
Isso significa apenas 13 das empresas pesquisadas.
Não é a primeira vez que falo
sobre estes dados, quando o assunto refere-se às empresas familiares
brasileiras. Mas neste post vou enfocar um ponto que ainda não tinha sido abordado.
Por que estas empresa possuem dificuldade de trilhar um caminho mais seguro e
sustentável ? Certamente não é falta de informação ou falta de acesso à
solução. Creio que dois fatores atuam fortemente para que as empresas
familiares brasileiras sejam recorrentes em erros que podem comprometer a sua
sobrevivência. O primeiro deles tem a ver com a dificuldade de escutar e acatar
posições diferentes daquelas que julgam como corretas, baseadas na sua esfera
de conhecimento, considerando-a maior do que qualquer outra. Sim, sobre o
negócio ninguém sabe mais do que quem está nele, todavia o mundo não é feito
somente da empresa onde se trabalha. Não ouvir, pressupor que sabe de tudo, não
estar aberto para a evolução, implica em não ter humildade para melhorar. Isto
é, não ter capacidade para melhorar. Implica de certa forma em prepotência. O
resultado é fechar-se no próprio mundo e tomar decisões que pioram a própria
situação. Estagnar e candidatar-se seriamente ao desastre.
O outro fator
preponderante, certamente é colocar os relacionamentos e interesses pessoais e familiares,
acima das necessidades e procedimentos da empresa. É levar para a empresa as
mesmas características que existem nos laços familiares. É querer que defeitos
já identificados no universo familiar sejam milagrosamente corrigidos e
compensados na empresa, só porque tratam-se de parentes. É manter-se na
imaginação que os donos ou herdeiros do patrimônio são as melhores alternativas
para geri-lo, quando na prática os problemas mostram o contrário. Não é a toa
que alguns preferem retirar todos da família e colocar executivos, na tentativa
de atenuar esta influencia nas operações do negócio. Colocar a cultura familiar
acima da cultura empresarial, por vezes pode ser responsável por gastos acima
das possibilidades, pelo descontrole sobre despesas, pela falta de planejamento
e previsão de desembolsos, pela perda de receitas, e por muitas decisões que
não foram devidamente analisadas, sendo tomadas por impulso ou para evitar
conflitos com desdobramentos pessoais. Decisões tomadas como se fossem em um
almoço de domingo.
Em 2016, o Brasil teve 1.852
empresas que entraram em falência e mais 1.863 que recorreram ao instituto da
recuperação judicial. Por analogia, isso pode significar que cerca de 1.700
empresas familiares deixaram de existir e outras 1.700 estão lutando para não
ter o mesmo destino. Não me restam dúvidas, que para não engordar estas
estatísticas as empresas familiares precisam de uma vez por todas vivenciar a
correta ordem desta expressão, na qual as empresas vêm na frente das famílias,
e não o contrário.
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