ALGUNS ERROS COMUNS SOBRE EMPRESAS E LUCRO

Sou um ouvinte assíduo de rádio, isto porque em virtude da agenda corrida que a profissão obriga, uma das formas de me atualizar com as notícias é ouvi-las no carro enquanto estou me dirigindo de um cliente para o outro, ou mesmo quando estou indo para eles. Ouvir notícias no rádio possui muitas vantagens, no entanto uma das desvantagens, a depender do momento em que você liga o seu aparelho, é que algumas vezes o ouvinte não consegue escutar a matéria por completo, ficando sem saber por exemplo quem é o entrevistado que está falando.

Recentemente,  isto aconteceu comigo, quando ouvi uma entrevistada proferir uma lógica bastante tendenciosa e incompleta sobre a lucratividade das empresas. Em uma reportagem sobre o trabalho escravo no Brasil, a pessoa afirmou que a finalidade das empresas era o lucro, e que para ser obtido era necessário reduzir gastos, e que esta redução de gastos implicava em condições de trabalho precárias, insinuando que a exploração do trabalhador em condições de escravidão era inerente à atividade empresarial. Esta fala é uma grande oportunidade para abordarmos alguns assuntos relacionados com os temas levantados pela falante entrevistada, que mais preocupada com a sua eloquência e menos com a correção do que proferia, sem querer reiterou um equívoco muito comum no pensamento popular brasileiro. 

A finalidade das empresas não é o lucro. A finalidade das empresas é prestar boas soluções para sociedade na qual estão inseridas, sejam elas através de produtos ou serviços, fazendo isso de maneira eficiente, gastando menos do que recebe do mercado para isso. O lucro é a medida desta eficiência. Nada mais. E não necessariamente representa dinheiro. Existem empresas com lucro sem dinheiro no caixa e existem empresas sem lucro com  o caixa abastado. Então o lucro não é uma finalidade em si, mas sim uma consequência. Colocá-lo no centro do objetivo da finalidade empresarial, é uma visão além de obtusa, completamente influenciada pela abordagem marxista que se esmera em denegrir a iniciativa privada, mesmo sendo esta a grande responsável pelos maiores avanços da humanidade nos últimos séculos. 

O lucro não é conseguido com redução de gastos. Ele é obtido pela economia de escala que está relacionado com o volume de vendas da empresa. Qualquer empreendimento que fundamentar a sua lucratividade  na redução de gastos, está fadado ao fracasso e à perda da sustentabilidade. Isso não significa que a redução de gastos não seja necessária em momentos de ajustes econômico financeiros. No entanto, sendo o lucro a parcela que sobra das receitas ao serem deduzidos os gastos, matematicamente ele encontra-se na primeiro fator e não no segundo. Esta abordagem  reducionista do lucro é também uma visão propositalmente distorcida, forjada no pensamento marxista e em parte no pensamento cristão, com a finalidade de satanizar a atividade econômica das pessoas, sendo logicamente uma grande inadequação.

A redução de gastos não implica necessariamente em condições de trabalho desumanas, ou mesmo em trabalho escravo. Primeiro porque a escravatura é uma prática muito anterior à atividade empresarial, que remota a períodos recentes da nossa história, enquanto que a outra vem dos seus primórdios milenares. Além do mais existem empresas que possuem gastos reduzidos e também possuem condições de trabalho adequadas, cumprindo todas as exigências legais e ainda oferecendo aos trabalhadores determinadas vantagens e benefícios, tanto de remuneração como no ambiente de trabalho, não se tratando desta forma de algo com a relação obrigatória e direta que a entrevistada fez questão de caracterizar. Existem casos de trato inadequado de seus colaboradores, em organizações empresariais, militares, religiosas, e até familiares. Logo é muito mais honesto intelectualmente concluir que a escravidão está mais relacionada com aspectos culturais do que com as empresas. 

Determinadas correntes ideológicas criam mitos e equívocos conceituais para justificar as suas premissas. Elas impregnaram o pensamento nacional, e com isso prestam um grande desserviço ao país, fomentando o atraso e a inércia econômica. É preciso desmascarar estes equívocos, que muitas vezes são repetidos pelas pessoas sem o devido conhecimento de causa, somente porque em algum momento de sua formação eles receberam este conteúdo de forma absoluta e inquestionável. Atacar as empresas não é uma forma producente de desenvolver um país, mas sim o melhor caminho para levá-lo a pobreza extrema. 


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