POR DENTRO DAS DECISÕES FINANCEIRAS

O fundo de ações de Robert Thaler, conseguiu obter retornos até 3 vezes maiores do que o mercado durante 10 anos, utilizando estratégias de finanças comportamentais. Isso é um bom indicador de que precisamos considerar esta nova área de conhecimento. 

Para decidir, normalmente as pessoas julgam probabilidades de eventos e valores financeiros, além de seguirem atalhos mentais relacionados com o seu comportamento. Keynes já achava que os hábitos pessoais influenciavam nas decisões econômicas. Denzau e North defendiam que em virtude de limitações cognitivas, as pessoas simplificavam padrões e construíam modelos mentais. Mas quando o assunto é decisão financeira, a ferramenta usual era a Teoria da Utilidade, mesmo que o ser humano tenha se revelado continuamente muito mais do que o homo econômicus, racional, perfeitamente informado e centrado em si próprio, um ser que deseja riqueza, evita trabalho desnecessário e tem a capacidade de decidir de forma a atingir seus objetivos. 

Somente após a pesquisa de Tversky e Kahneman, este último prêmio Nobel de Economia em 2002 exatamente por causa dela, a decisão financeira incorporou aspectos menos racionais. A Teoria das Perspectivas demonstrou que o decisor não tem autocontrole suficiente e que não possui entendimento pleno da situação. Ele toma decisões em função do hábito e das suas características pessoais e este comportamento decisório sofre influencias da situação e das alternativas disponíveis. Os ganhos e perdas são avaliados em função de um status quo existente ou mesmo de um resultado esperado. Os decisores tendem a se atribuir maiores probabilidades de ganhos, dão mais peso as perdas e possuem uma contabilidade mental onde diferem erroneamente investimentos de despesas correntes. Frequentemente, tomam decisões com base num pensamento informal não sistematizado, uma espécie de entendimento geral sem algorítimo. São as chamadas heurísticas. Ora são estereótipos, modelos de aproximação com decisões baseadas no passado, ora são decisões que contam apenas com o que está disponível na memória ou com a facilidade de lembrar dos critérios, ora são decisões que adotam ancoragem e ajustamento, onde usam um referencial com sucessivos ajustes posteriores. 

A verdade é que vários fatores psicológicos e comportamentais concorrem para a decisão financeira, e não somente seus aspectos puramente numéricos. A aversão ao risco gerada pela inabilidade com probabilidades, a valorização de ganhos certos e preferência pela certeza, a tendência de encontrar explicações para fatos aleatórios, o viés de valorizar os próprios bens mais do que os bens alheios, a tentação de apostar em azarões, a crença na reversão da média dos resultados independente da estatística, a necessidade de prender-se às regras, referenciais e condições antigas que foram concebidas em outras circunstâncias, a capacidade de selecionar na memória apenas o que interessa e descartar o que fere as próprias conveniências, a assimetria informacional, a falácia de ter que continuar numa operação só porque já investiu demais nela, além dos vieses sentimentais de humor, superstição e até o acúmulo de informações não úteis, podem determinar uma decisão financeira final, e não a sua rentabilidade líquida por exemplo.

Herdamos de Platão, o pensamento no qual o perfeito mundo das idéias, da razão e da mente, se contrapõe ao imperfeito mundo físico, onde a emoção e o corpo habitam. Seu discípulo, Aristóteles, consolidou e sistematizou essa percepção e o cristianismo parece que adotou, através de S.Tomaz de Aquino e S.Agostinho. O determinismo tranqüiliza diante da incerteza e da ambigüidade. Platão e Aristóteles também influenciaram Descartes na concepção do método científico, quando defendia que a emoção trava a razão que era o único caminho de entendimento da realidade. Bernoulli se valeu desse alicerce para identificar que o valor tem haver com a utilidade e que é diferente de preço, criando um fundamento conceitual cujo modelo matemático só foi concebido 200 anos depois, por Neumann e Morgenstern. Só em 1958, nascia a Moderna Teoria de Finanças com base numa visão racional do ser humano. Um longo e válido caminho percorrido até aqui, mas será mais producente daqui por diante, considerar o filósofo em sua totalidade. 

Baseado no livro Finanças Comportamentais - Coleção Coppead de Administração

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