AS LIÇÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO PARA VANTAGENS COMPETITIVAS



O Futebol é uma boa metáfora para o que ocorre com pessoas, empresas e países em termos de vantagem competitiva. Em 1970, demos um show e saímos da Copa como reis desse esporte, dentre muitos outros que existiam. Ignorando a preparação física diferenciada que o time teve, preferimos creditar o resultado ao “talento”, “habilidade” e “genialidade” do brasileiro. Ou seja, éramos melhores não porque trabalhamos para isso. Éramos melhores porque éramos inerentemente superiores.

O motivo pelo qual fizemos esta escolha também merece reflexão, visto que toda preparação requer empenho, esforço, planejamento, dedicação, rotina, perseverança, aprendizado com os erros, humildade, foco somente para ficar estes itens de uma lista ainda mais extensa. Já o que preferimos adotar nos foi dado pela “Natureza” ou até por “Deus”. Vem de graça. Nos é peculiar. Próprio. Como se estivesse no sangue. E desta feita nos diferenciava dos demais. Deixo para o leitor a continuidade da reflexão e retorno ao tema principal.

Após a seleção erguer a taça Jules Rimet, tão desejada e bem cuidada pela nação verde amarela que tempos depois foi roubada e derretida por ladrões, literalmente falando, seguiram-se vários conteúdos escritos e audiovisuais embriagados de ufanismo, idolatria e todo arsenal entorpecedor fazendo-nos acreditar que o jeito típico do jogador brasileiro, sua ginga única, seus dribles exclusivos, sua malandragem, nos faziam simplesmente os melhores do planeta. Esta vertente avançou tanto que atualmente temos até assassinos esquartejadores sendo venerados nas selfies inconsequentes.

Os outros eram simplesmente nossos “fregueses”, como se cliente habitual fosse para ser derrotado, colocado 4 gols e chacoteado depois. Mais um erro conceitual brasileiro. Nossos vizinhos sul americanos eram sempre inferiores. Até tentavam ser parecidos conosco mas não passavam de uma imitação bizarra e muito abaixo do nosso explendor. Mesmo que o Uruguai tenha tirado a Copa dentro do Maracanã 20 anos antes. Que nada, aquilo foi um acidente. E os europeus, eram uns “cintura grossa”, não tinham aquela destreza do moleque brasileiro que parecia dançar com a bola. Jogavam por isso um futebol feio e sem emoção. O nosso sim, era a representação dos deuses.

Mas já na Copa seguinte de 1974, o carrossel holandês e a campanha pífia dos canarinhos comparada a anterior, já sinalizaram que algo estava errado nesta crença. Cruijff e os outros que vestiam aquela camisa laranja, deram um sinal que nem tudo era samba e carnaval quando o assunto era bola no pé e nas redes. Alguma coisa estava acontecendo fora das câmeras de televisão.  Era a concorrência trabalhando para alcançar bons resultados. E trabalhando mesmo. Combinando a contratação de jogadores de outros países, incluindo o Brasil, o que só serviu para aumentar a nossa empáfia quando enviávamos Romário, Ronaldo e Ronaldinho para os campos estrangeiros, com uma administração profissionalizada dos clubes algo raro até hoje por aqui, os “outros” estavam caminhando. E nós, nós continuávamos na mesma.

Continuamos a apostar nas mesmas vantagens competitivas de antes e perseguir a repetição daquilo que nunca se repete. Por isso demos um novo show em 1982 mas não ficamos com a taça. Passamos a escalar seleções somente com jogadores que jogavam fora do país, passamos assistir o futebol italiano, espanhol e inglês nas nossas telas pois o nosso já não apresentava a mesma performance. Parece um outro esporte ! Esta seria a constatação de alguém que assistisse dois times europeus no passado e um bom jogo do Barcelona atualmente por exemplo. Colecionamos decepções enormes mas preferimos não aprender com elas e elevar somente as vitórias. Ah, o campeão voltou ! Sem nunca ter voltado de maneira sustentável. Fomos ao topo do ranking da FIFA para assistir a nossa queda.

Também continuamos com o que chamo de maldição do treino leve. Nossas concentrações são motivos de festas e badalações como crianças em sua primeira viagem escolar. Gostamos mesmo é de tamborim no ônibus e escapadinhas noturnas. Isso seria o comportamento de profissionais fartamente remunerados e assistidos ? Nesta mesma maldição, estão aqueles bate bolas que mais parecem peladas de várzea, depois de uma série de exercícios. Tudo isso é muito chato para nós que somos os deuses do futebol. Não precisamos treinar aquilo que já sabemos. Talvez deveríamos mudar o nome das nossas equipes para Soberba.


Quando a Alemanha goleou em 7 x 1 a seleção brasileira em Minas Gerais, deixando os nossos jogadores sem saber o que estavam fazendo em campo, nos já estávamos no fundo do poço há muito tempo. Já tínhamos de lançar mão de técnicos que foram ex-jogadores porque não fomos capazes de desenvolver profissionais capacitados nesta profissão. Mas para que um bom técnico se em um esporte onde jogam 11 pessoas, o importante é o camisa 10, 9 ou 11 ?  Já faz algum tempo que não temos o melhor futebol da Terra. E a culpa é inteiramente nossa. 

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