CONDUTAS QUE FOMENTAM A CRISE FINANCEIRA NAS EMPRESAS

 
A relação que algumas empresas possuem com o dinheiro, está intimamente ligada com a relação que seus donos e gestores têm com ele. Trata-se de uma questão de cultura organizacional, todavia, este fator influencia diretamente no resultado numérico da instituição, muito mais do que podemos imaginar. Não existe no balanço ou no DRE, nem em qualquer outro demonstrativo numérico empresarial, uma conta sobre este assunto, mas estes demonstrativos de certa forma traduzem em números, como a empresa lida com o dinheiro, e isso vem dos conceitos, mitos e ritos que ela guarda sobre este assunto. Como uma identidade para a qual converge estas características peculiares, cada uma apresenta sua forma de lidar com a questão monetária. Já vi algumas bem diferentes, e outras bem similares.
 
Grandes grupos empresariais, compostos de várias empresas de ramos distintos, atuando em vários estados do Brasil, com operações envolvendo milhões de reais, e também empresas de médio porte em grande processo de crescimento, podem se comportar praticamente da mesma maneira. Quando a disponibilidade financeira é grande, certamente alimentada por boas margens de lucro e bons volumes de faturamento, a ineficiência organizacional e operacional é minimizada, e de certa forma encoberta. Tudo parece que está bem mas na verdade não está.
 
No período de ”vacas gordas”, a facilidade de ter dinheiro resolve muita coisa e dá a impressão que tudo é possível. Os decisores arriscam-se em projetos nem sempre adequados, nem sempre seguros, nem sempre rentáveis o suficiente. O excesso de liquidez possibilita a excessiva imobilização de capital, ora nos estoques através de compras mal dimensionadas, ora em ativos fixos, ora em investimentos com retorno a longo prazo, prejudicando o capital de giro do negócio. É como se o presente estivesse sendo trocado pelo futuro. Como se a empresa estivesse descolando de sua realidade. Compram demais, arriscam demais, gastam demais. Com processos mal definidos e estrutura organizacional ineficiente e equivocada, nesta época de fartura convivem com decisões mal tomadas, com desperdícios, perdas e até com fraudes que lesam o patrimônio, mas tudo isso, não aparece no resultado porque ele é grande e bom. O nível da água cobre a fissura na represa.
 
Por mais que a festa esteja boa, um dia ela acaba, e neste dia as coisas mudam, seja por causa de alterações no mercado, seja por causa da coleção de erros gerenciais que a empresa acumulou. E quando a mudança vem, somente as empresas que se prepararam, conseguem superar as dificuldades inerentes a ela. A liquidez vai embora e muitas vezes não se sabe o que aconteceu. A lucratividade é reduzida ou desaparece e não se consegue saber quais os produtos que estão colaborando para isso. Muitas vezes o desespero toma conta do cotidiano. A empresa deseja resolver em um só dia, tudo que não fez durante anos. O nível da água desce e aparecem as fissuras por onde esvaiam os recursos. Elas na verdade sempre estiveram ali, só que ninguém mergulhava para consertá-las. Preferiam ficar na superfície
 
 
Artigo de minha autoria publicado originalmente no site ADMINISTRADORES.

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