PERDENDO O MEDO DO CAPITAL DE TERCEIROS



Com base nos últimos três anos e dados da Receita Federal, IBGE e Secretarias de Finanças e da Fazenda, o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário estima que do começo do ano até o momento que eu estou escrevendo este post, já foram abertas mais de 462.000 novas empresas no país. E esse número não para de crescer. A continuar nesse volume, serão mais de 1,5 milhões de novas empresas até o final do ano. Estamos numa nação de empreendedores confirmado por uma pesquisa do Endeavor que aponta 60% dos universitários brasileiros querem abrir seu próprio negócio. Parece que enfim descobrimos o prazer e as vantagens da iniciativa privada. O setor de serviços, seguido do setor de comércio dominam esta avalanche com 88% dos novos negócios, sendo 50% deles na região sudeste, seguida pelo Nordeste bem atrás com 7% que passou a região Sul. Metade delas são do tipo MEI (micro empresário individual), que somadas com as Limitadas e variações dessas duas modalidades, ultrapassam os 80% desta natalidade. São milhares de lojas de vestuário e acessórios, cabelereiros, obras de alvenaria, lanchonetes, casas de suco, venda de alimentos, bares e restaurantes, firmas de manutenção, instalação e conservação, confecção de roupas, e mais uma grande variedade de tipos. 

O capital para fazer alavancar e manter todo este contingente de empreendimentos, está praticamente ancorado no lucro das operações, no prazo dos fornecedores e no capital próprio. O pequeno empreendedor parece que não vê com bons olhos o uso do capital de terceiros ao contrário das grandes empresas brasileiras que estão utilizando cada vez mais este capital, inclusive estrangeiro. A abundância destes recursos a juros baixos fez com que a proporção entre dívida e patrimônio destas empresas chegassem a 90% no ano passado. Também pudera, em 2012, as empresas brasileiras foram as maiores tomadoras no exterior, a ponto do FMI dá um sinal de alerta recentemente. À parte os riscos macroeconômicos desta alavancagem, o fato é que o capital de terceiros cumpre papel importante no financiamento destas empresas. Mas o empresário menor está longe deste perfil. 

Parte desta conduta, pode ser explicada pelo medo do endividamento e na incompreensão do papel do capital de terceiros no processo de alavancagem dos negócios. A verdade é que as vezes para crescer como o mercado exige, o prazo dos fornecedores e a margem de lucro são insuficientes, com raras exceções. Ou o empresário coloca dinheiro do próprio bolso ou toma emprestado no mercado. E o capital de terceiros pode ser realmente mais barato que o capital próprio se assunto for bem gerido. Significa dizer, que nem toda dívida é ruim. Além de ser mais barato, o capital de terceiros pode também aumentar o retorno sobre a capital próprio, gerando mais riqueza para o dono do negócio. A satanização dos Bancos possui um lado cruel para o desenvolvimento das empresas. Mas não é somente com eles que um empreendedor pode arrumar dinheiro para fazer o seu projeto decolar. Existem também os Anjos, que são investidores dispostos a investir em negócios promissores em troca de uma boa taxa de retorno. Eles entram no negócio, fomentam e depois saem. Atualmente, se fala muito nessa modalidade de financiamento aqui no país mas nos EUA isso já funcionava há mais tempo, tanto que em 2011 escrevi um pequeno post sobre isso quando voltei da Universidade da Califórnia. 

O fato é que o capital de terceiros é uma alternativa a ser considerada na estrutura de capital dos negócios brasileiros se eles quiserem operar numa fatia maior do mercado. Seja ele um empréstimo ou uma espécie de sociedade. O empresário precisa vencer o preconceito e abandonar a decisão do tipo “manada” , ou seja, aquela decisão que é tomada somente com base em notícias e opiniões de amigos. Ele precisa conhecer os números do seu negócio e saber exatamente a taxa de retorno que possui. Ter ciência exata de quanto vai ganhar com a injeção de novos recursos e não somente do quanto vai pagar por isso, ajuda a superar o receio do endividamento. E isso será bom, desde que ele não exagere no remédio.

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