O ÚLTIMO DIA
Parece algo paradoxal mas
um bom gestor trabalha o tempo inteiro para o seu último dia de trabalho. Deixe-me
explicar melhor. Um bom administrador trabalha orientando, ensinando,
motivando, apoiando, delegando, isto é, edificando equipes e procedimentos.
Porém enquanto ele estiver no comando, jamais saberá ao certo o que
construiu, pelo simples fato de que a sua presença sempre será um referencial e
afetará a realidade. Somente quando ele não estiver mais por perto, saberá se
as sementes que plantou germinarão e darão bons frutos. Em outras palavras, ele
trabalha estruturando as coisas para que funcionem sozinhas, sem a necessidade
da sua presença permanente. Assim quando sair de férias, quando viajar, quando for
transferido, ou mesmo quando sair da empresa, tudo vai ficar funcionando
adequadamente.
Nem todos perceberam esta
verdade e insistem em centralizar, condicionar tudo à sua participação, talvez
para dar a si a noção de importância ou por causa da própria insegurança. São
gestores que podem até ter bons resultados, no entanto, no longo prazo não
edificam na verdade a organização. As vezes a destroem por sinal. São
personalidades apegadas demais ao poder e à imagem, e por isso não compreendem
como a empresa pode funcionar sem elas. Imaginam que sempre sabem de tudo e
sempre estão certos em todos os assuntos. Gostam de ser indispensáveis, de interferir
em tudo, de criticar o trabalho alheio, de enaltecer o que fazem como se fossem
os únicos determinantes para o sucesso.
O verdadeiro bom gestor,
ao contrário, traz consigo uma natureza desapegada, e uma das formas de
conhecê-lo é no seu último dia de trabalho. Para isso, é preciso observar
atentamente a sua equipe e perceber as pistas que ela vai dar. Neste caso, ela
vai sentir a sua saída sem emotividade exagerada, vai estremecer um pouco em
sua estrutura, mas vai seguir adiante, vai se manter firme inspirada no que vivenciou
no passado, e vai saber o que fazer porque foi treinada para este dia.
Haverá consideração e reconhecimento sinceros, mas não bajulação. Haverá a
certeza de que o gestor continuará presente nos ensinamentos que deixou. E isso
os conforta e fornece um norte. É também a revelação da qualidade da equipe,
traduzida nas atitudes que vão tomar e nas condutas que vão assumir dali por
diante. Afinal, nada se faz sozinho.
O último dia de um gestor
é um momento muito rico de emoções, verdades e desafios também. São poucas
horas que resumem anos de dedicação e trabalho. Em segundos passam nas mentes
os ideais que foram abortados, os avanços que foram conquistados, o cotidiano
de bons e maus momentos, tudo convergindo num só dia. Um dia que não é uma partida, mas uma transformação. Não é um final e sim um recomeço. O dia para o qual todo executivo
tem de estar preparado.
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