A MATÉRIA INVISÍVEL DO CAPITAL
Quem olhar pelo maior telescópio do mundo,
inaugurado este ano no deserto do Atacama no Chile, vai poder ver detalhes do
universo nunca vistos antes. O bilhão de euros que ele custou, vai possibilitar
a observação de vários corpos celestes, mas não possibilitará que o observador
veja aquilo que compõe 73% do espaço, responsável por mover os corpos e
expandir o universo: A matéria escura. Escura porque não pode ser vista por
nenhum telescópio, não reflete a luz e não a emite. Ou seja, algo praticamente
invisível que ninguém vê mas que está lá e podemos conhecê-la pelos seus
efeitos. Algo que bem poderia se chamar de matéria invisível.
Da mesma maneira que ocorre na cosmologia, o
universo financeiro tem a sua matéria invisível. Tudo o que você vê é capital
ativado. São ativos na forma de edificações, veículos, equipamentos, máquinas,
móveis, utensílios, estoques e até dinheiro na conta bancária e nos caixas.
Além disso, é verdade que existem itens intangíveis como marcas,
patentes, direitos de recebimento, por exemplo. Mas nem por isso são imperceptíveis.
Como é o que nós vemos ou percebemos, imaginamos que o capital é isso. Mas
trata-se apenas da parte visível porque o capital é mais complexo que a nossa
vã filosofia. Trata-se da aplicação do capital que significa apenas uma parte
da sua compreensão.
Todas as aplicações são importantes. É
verdade. Mais do que simples e aparentes manifestações do capital, elas devem
ser vistas e tratadas como investimentos. Em todo ativo está sendo feito um investimento.
E todo investimento precisa de retorno. Então, é fácil deduzir que tudo isso
precisa ter rentabilidade positiva. Tudo isso tem uma taxa de retorno. Ou pelo
menos deveria ter.
Para cada real ativado, aplicado ou investido,
existe o mesmo real que o financiou. Assim como a matéria escura no universo, isso
você não vê mas existe. É o capital exigível porque ele constitui uma
obrigação. Mais que isso, é ele que possibilita a realização de tudo o que
vemos no mundo. Fábricas, lojas, viadutos, hospitais, escolas e até
telescópios. Para todo investimento, existe um financiamento correspondente. É
o financiamento que faz o investimento expandir ou retrair. É ele que faz as
coisas acontecerem. Mas nós só enxergamos os seus resultados. Aquilo que é
aparente. Exatamente como acontece quando olhamos para o céu. Enxergamos
facilmente a aplicação, mas muitas vezes não conseguimos enxergar as origens.
Todo capital que financia tem um custo. E este
custo pode ser traduzido por uma taxa, da mesma maneira que ocorre com os
investimentos. Para uma empresa gerar valor financeiro justificando a sua
existência, o retorno que ela tem com seus ativos deve ser maior que o custo
que ela tem com o capital que a financia. Ou seja, a taxa de retorno sobre o
capital investido deve ser maior que o custo médio ponderado do capital. Se
isto não estiver acontecendo, ela não estará promovendo riqueza. Não estará
cumprindo a sua função social e razão da sua existência. Ela será uma empresa
que irá consumir a própria luz, assim como ocorre com as estrelas que
tornam-se anãs brancas ou explodem transformando-se em supernovas, e um dia deixará
de existir na sua formatação original. No cosmo, esse processo dura alguns
bilhões de anos até que uma estrela acabe por completo. Aqui no nosso mundo, o
prazo para as empresas certamente é muito menor.
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