NÃO EXISTE PASSAGEM DE ÔNIBUS GRÁTIS




A expressão popular "fazer caridade com o bolso dos outros"  significa a atitude de bancar o bonzinho quando na verdade quem está pagando a conta é outra pessoa. Trata-se de uma prática muito comum na política brasileira, e tivemos um bom exemplo disso com a iniciativa da prefeitura de Maceió em definir gratuidade de 50% nas passagens de ônibus aos domingos. Logicamente, que o benefício é bem recebido pelo usuário a princípio, mas gostaria de refletir sobre o que na verdade seria bom para a população neste assunto, e quem na verdade está pagando a conta desta iniciativa.

Os serviços de transporte urbano são concessões do poder público para empresas privadas operarem na cidade. Logo, o dinheiro da passagem de ônibus não vai para o bolso da prefeitura e sim para o caixa do operador. No entanto, os preços cobrados pelas empresas aos usuários são determinados pelo poder público, e não é raro passarem anos sem reajuste. Para funcionar, além de pagar os tributos e taxas da atividade, as empresas pagam a folha de salários, a conservação e a manutenção dos veículos, a aquisição de novas unidades, as despesas de escritório e de controle da frota. Cada gratuidade estabelecida reduz as receitas das empresas que por conseguinte perdem capacidade de melhorar os seus serviços, perdendo condições de investimento. As contas das empresas de ônibus andam combalidas e mais uma redução no faturamento, agrava a situação colocando em risco os trabalhadores que nela atuam. 

Os pontos de embarque e desembarque por sua vez são serviços prestados pelo executivo municipal. São desconfortáveis, sujos, mal conservados, com lugares insuficientes, quase somente para dizer que existem. Não é raro avistar os passageiros esperando no sol ou levando chuva. As linhas onde operam os ônibus também sofrem intervenção e são determinadas, em vez de atenderem a demanda dos usuários. Por isso, é possível vê-los amontoados em alguns horários, dando margem a todo tipo de abuso, e ver linhas e trajetos obrigatórios com os lugares praticamente vazios. Já a segurança dentro dos veículos é responsabilidade das empresas. E não há um só passageiro que não se preocupe com isso devido ao número de roubos e assaltos que ocorrem. 

A gratuidade aos domingos é apenas uma ilusão de benefício, pois na verdade agrava a falta de qualidade do transporte público. No curto prazo o usuário pensa que está ganhando, mas no médio e longo prazos está sentenciado a permanecer e piorar as condições do que usa. Um pessoa que utiliza o transporte todos os domingos, estará economizando uma pequena quantia, mas eu lhe pergunto se é melhor deixar de pagar esse montante ou contar com pontos melhor estruturados, mais veículos para atendê-lo, com mais conforto e segurança dentro deles ? 

Iludido pela aparente vantagem, o usuário é quem paga esta conta na verdade. Paga com a perda da perspectiva de melhoria de vida, numa espiral que leva sempre para pior as condições existentes. Enquanto isso, os nossos políticos que fazem carreira nos cargos públicos, seguem melhorando suas trajetórias e cumprindo rotas cada vez maiores, deixando um rastro de atraso que pode ser visto pelo vidro traseiro da nossa cidadania. 

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