SOBRE PASSEATAS E OUTRAS COISAS MAIS

Uma passeata é um pequeno passeio. Mas ele tem uma finalidade. Há muito
tempo e em muitas culturas, os militares fazem passeatas para exibir as suas
tropas. As bandas participam de passeatas para fazer a sua música ser ouvida. Os
cidadãos civis fazem passeatas para manifestarem publicamente a sua opinião
sobre determinado assunto, contra ou favor do mesmo. A passeata é essencialmente
uma exibição.
No jogo político, mais do que uma exibição, as passeatas são demonstrações
de força, numa maneira bem similar ao modelo militar. Se uma passeata tem pouca
gente, automaticamente você pensa que aquele assunto não tem tanto apoio. Se
ela está repleta de adeptos, somos inclinados a pensar que o volume significa necessariamente
a mesma proporção de relevância do tema. A verdade é que sem sempre as coisas
são assim. A importância do tema não está diretamente relacionada ao volume de
pessoas em um evento destes, mas sim ao tipo, à qualidade e à eficiência na
sensibilização e mobilização dos participantes.
Tivemos muitas passeatas na história recente brasileira. Tivemos a
passeata dos cem mil e as marchas da família com Deus pela liberdade. Vinte
anos depois tivemos as passeatas pelas diretas já, e oito anos mais tarde as
passeatas dos caras pintadas pelo impeachment de Collor. Em junho de 2013,
tivemos talvez a maior movimentação de passeatas populares só que desta vez espontâneas
sem um foco definido, que pipocaram em muitas cidades brasileiras levando
milhões para as ruas e algumas centenas literalmente ao teto do congresso
nacional. Pena que os resultados práticos giraram em torno de 20 centavos. Parece
até que gostamos mesmo de passeatas. Hoje em dia tem para todos os gostos. Deve
ser verdade, pois desfilamos escolas de samba, blocos de carnaval e outras
coisas mais, com o entusiasmo que deveríamos ter na construção cotidiana do
nosso futuro.
Tanto que os políticos para se elegerem, promovem as suas passeatas. Pagam
figurantes e outros vão pelo interesse prático e as vezes financeiro naquela
candidatura. Saem em carros abertos, tremulam suas bandeiras, acenam para quem
assiste, num espetáculo as vezes organizado as vezes engraçado pela falta de
sinceridade dos atos e palavras protagonizados, mas enfim elas existem.
Por exemplo, hoje na capital alagoana de Maceió, que eu saiba existem 3
passeatas todas na orla marítima, o mesmo lugar onde ocorriam as festas de Axé
e onde atualmente as famílias vão gastar a energia da criançada e alguns reais
nos brinquedos da rua fechada. È uma vitrine, afinal ninguém quer fazer
passeata em local pouco visto. Duas são de candidatos que lideram as intenções
de voto para o governo, e outra de um grupo que defende o Fora Dilma. Sempre há
o risco, desta última ser ofuscada pelas demais, porém a todos deve ser
garantido do direito de passear, inclusive aqueles que não gostariam de
participar de nenhuma delas e que certamente não vão poder nem passar pelo
local, devido a concentração de pessoas, carros e auto falantes.
A grande questão é que as passeatas, assim como os pequenos passeios,
acabam. Elas podem ser divertidas, gerar boas fotos e filmes, motivar seus participantes
e outros para a causa, dar a impressão de união, força e vitória, passar um
recado para quem quer que seja, porém elas invariavelmente sempre acabam. Elas
acabam e as pessoas retornam para as suas vidas, muitas vezes fazendo coisas
contrárias ao que estavam defendendo em praça pública. E os fatos históricos,
aqueles que determinam realmente os resultados que são necessários para as
mudanças, para os avanços, para a resolução dos problemas, para o andar da
carruagem do tempo na qual todos estamos, parecem ocorrer antes e depois das
passeatas. Não durante elas.
Não sou contra passeatas. Até acho interessante. Penso que elas devem continuar. Mas gostaria de
convidar todos os seus participantes, principalmente os que protestam de boa fé e com sinceridade, os bem intencionados, os que
desejam um país melhor, próspero, democrático e livre, e principalmente aqueles
do movimento Fora Dilma, com os quais comungo de muitas ideais, a darem mais um
passo nestas caminhadas. Que as nossas palavras tornem-se obras. Que os nossos gritos tornem-se atitudes. Que compreendamos que para fazer oposição a uma
organização estruturada, é preciso uma organização estruturada também. E que para colaborar com a melhoria do Brasil podemos e devemos fazer o que os políticos atuais não fazem, sem precisar ser um deles. Existem maneiras para isso que completam os passos que damos nas ruas e o voto que depositamos de quatro em
quatro anos. Mas isto eu só vou contar em um próximo post, pois o
almoço de domingo que minha esposa está preparando, já está na mesa.
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