CONSULTORIA E ADMINISTRAÇÃO: NEM SEMPRE ALIADAS.



É de se esperar que uma consultoria organizacional ou de gestão e a administração da empresa que a contratou, sejam aliadas no processo de melhoria do funcionamento. Nada mais lógico. Se a direção da empresa contratou uma consultoria é porque imagina que a mesma poderá ajudar neste objetivo. O papel de uma consultoria desta natureza é identificar, recomendar, orientar, acompanhar implantações, monitorar os resultados e informar a direção sobre o andamento do projeto. O papel da administração é executar as ações de melhoria, observar os resultados e até propor e realizar novas ações, se tiver condições. Trazendo experiências de outras organizações e conhecimento técnico, a consultoria pode realmente contribuir com a elevação do padrão da empresa sem fazer parte de sua cultura, que muitas vezes a impede de prosperar. Conhecendo a realidade e o cotidiano do negócio, administração contribuir para o efetivo salto de qualidade desejado. Em outras palavras, consultoria e administração seriam bons aliados. Acontece que nem sempre as coisas se comportam como deviam.


O fato é que a atuação da consultoria causa uma mudança no status quo da empresa. Em alguns casos, ela levanta fragilidades e quase sempre produz uma demanda de trabalho adicional para a administração. Quando esta tem o mesmo objetivo e possui maturidade profissional, assimila estas situações e as resolve de maneira satisfatória. Quando o objetivo é minimizar o volume de trabalho mantendo-se na posição que está, tentar se apropriar das evoluções que a consultoria pode trazer para receber os méritos posteriormente, ou quando não há maturidade profissional suficiente, a administração pode criar dificuldades ou até conflitos pessoais, na tentativa de neutralizar os avanços pretendidos. Nesta situação, consultoria e administração deixam de ser aliadas e passam a ser até antagônicas, prejudicando o objetivo maior que é a atuação conjunta em prol do benefício da empresa.

Em casos pontuais, havendo desgaste frontal entre membros da consultoria e integrantes da contratante, a situação fica incontornável, devendo a consultoria trocar o consultor ou a empresa trocar a administração, se quiserem seguir adiante com boa chance de sucesso, pois os atos futuros de ambas as partes tenderão a ser tratados como ataques pessoais, desconsiderando o aspecto profissional próprio de seu conteúdo. Havendo quebra de confiança então, a situação entre as duas fica insustentável, pois as garantias necessárias para se continuar os trabalhos acabarão por inviabilizá-lo. Ou a consultoria evita entrar neste cenário, ou corre o risco de perder o cliente. Por outro lado, ou a direção da empresa toma uma atitude firme em relação a seus gestores, ou corre o risco de perder o investimento que está fazendo e de quebra, ainda fomentar a desagregação hierárquica, pois atentar contra a consultoria é indiretamente atentar contra a direção da empresa, já que foi esta que a contratou.

Logicamente, existem outras alternativas menos incisivas. São aquelas típicas da “turma do deixa disso” na mediação de conflitos. Ambos cedem um pouco, passa-se uma régua no passado com os célebres compromissos de olhar para futuro. Pessoalmente, tenho minhas dúvidas se estas soluções são efetivas ou se apenas adiam o inevitável, causando mais prejuízos e desgastes pela frente. Podem ser apenas uma trégua, para novos embates e novos aborrecimentos. Mesmo no universo profissional, tão complexo e repleto de inovações, termos estrangeiros e modismos, creio que a sabedoria popular pode ser muito bem vinda quando ensina que é melhor cortar o mal pela raiz. Assim ele não ramifica, nem floresce. 

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