O QUE O GOVERNO PODE APRENDER COM AS EMPRESAS
O que o
governo brasileiro está descobrindo nos últimos dias às duras penas, o universo
corporativo já sabe há muito tempo. Alguns autores, consultores e gurus já
explicaram e continuam recomendando para seus leitores e clientes. Professores
ensinam em sala de aula quase todos os dias. A área de marketing já proclama há
décadas em palestras, livros, conceitos, modelos e técnicas. Executivos realizam
cotidianamente. Algumas empresas no Brasil e no exterior, têm nisto inclusive a
razão de seu sucesso. Todos eles descobriram e colocaram em prática o conhecimento
de que para uma organização, a coisa mais importante são os seus clientes.
Os clientes
estão para um negócio, como o povo está para o Estado. Os segundos vivem em
função dos primeiros. Toda vez que isso é esquecido os problemas se
multiplicam. Os clientes de um negócio compram seus produtos ou serviços porque
gostam dele, porque eles são bons, porque atendem as suas expectativas e
necessidades. Nesta compra há uma troca. Os clientes dão dinheiro e recebem um
benefício. A população também paga pelos serviços que recebe do governo que por
sua vez deveria retribuir com qualidade e eficiência. Nem sempre acontece. Os
clientes podem trocar de empresa se quiserem. Em regime democráticos, as
pessoas também podem trocar os governos. A troca exercida pelo cliente pode ser
bem simples. A troca de governos pode ser bem complexa.
As empresas
que priorizam o cliente, dividem suas atividades em atividades meio e
atividades fim. Em setores de back office e front office. Em outras palavras,
entendem que em sua estrutura a hierarquia não é mais a tradicional, na qual
quem está no posto acima é uma espécie de soberano, algo vindo de regimes de
séculos atrás. Nelas o organograma é praticamente invertido, e os setores e
tarefas ligadas ao atendimento do cliente são mais priorizados que aqueles que
dão apoio. Numa escala estatal, seria a mesma coisa que dizer que serviços de
saúde, educação, segurança e transportes estariam numa posição mais importante
do que outros, porque eles estão relacionados com os clientes, no caso o povo.
Quando as
empresas valorizam mais as suas funções relacionadas com apoio e gerenciamento,
em detrimento daquelas que obtêm e mantêm clientes, geralmente investem e
gastam no lugar errado, desenvolvem-se da maneira errada e acabam por
comprometer a sua existência no longo prazo. Estas organizações amórficas valorizam
o poder, a autoridade, o status e a casta que está acima dos demais. O governo
brasileiro comete exatamente o mesmo erro. Suas estruturas caríssimas não
funcionam para seus clientes. Aqueles que exercem os cargos públicos, sentem-se
melhores que aqueles a quem eles servem. Estão num patamar acima e os
benefícios não chegam para a população, somente para alguns. Nas empresas com o
mesmo perfil, ocorre do mesmo jeito.
Quando o
povo brasileiro foi às ruas, está dizendo que na condição de clientes estão
reprovando os serviços que recebem em função do preço que pagam. É uma relação
simples e direta de custo-benefício. E quando ela é desequilibrada, torna-se
numa força de mudança. Nas empresas, diminuir os níveis hierárquicos, reduzir
regalias e fazer com que os gestores estejam mais perto do processo e do
cliente, compensar pela satisfação da clientela, avaliar o desempenho de
pessoas e setores, ter rigor no controle e aplicação dos recursos financeiros,
entre muitos outras providências que existem no leque da gestão, podem fazer a
diferença entre aquelas que sobrevivem e prosperam, e aquelas que minguam e
desaparecem. Para os governos, o caminho pode ser exatamente o mesmo.
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