CAUTELA NUNCA É DEMAIS


 
Empreender no Brasil nunca foi um mar de rosas. No entanto, o atual cenário político e econômico exige atenção para quem já ou pretende tornar-se um empresário. O governo federal não dá sinais de entendimento das reclamações feitas nas ruas e devido a própria ineficácia, a presidente fica cada vez mais isolada. Até o momento, não há sinais de que vão existir grandes mudanças e o mais provável é que o país se arraste até as próximas eleições evoluindo no desacerto em que se encontra. Praticamente pela falta de uma política econômica e alguma influência externa, a economia dá sinais de sofrimento com redução das expectativas de crescimento, pressão pela subida do dólar, alta nos juros e queda na atividade industrial. Na tentativa de conter a inflação, o governo tem subido os juros e com isso desestimula o consumo e dificulta o crédito.  Em outras palavras, estamos com uma combinação de fatores que se não forem revertidos, pode lançar o país numa situação mais complicada do que já está.

Neste contexto, as empresas precisam estudar seus passos com prudência. Algumas podem sofrer com a retração das vendas e precisarão ajustar seus custos e despesas aos novos patamares. A pressão de subida para custos relacionados com pessoal deve subir e isso impacta bastante nas empresas que dependem mais de mão de obra. O setor de serviços, por exemplo. O objetivo deve ser a manutenção da margem de lucro das operações, compensando quedas de receitas com redução de gastos imediatas. Também é preciso cuidado com os preços de venda, para que não fiquem em patamares que não remuneram suficientemente o negócio.

A geração de caixa é outro objetivo a ser perseguido. Empresas fortes são aquelas que possuem um caixa forte. Para tal, o cuidado com a concessão de crédito precisa ser redobrada, para não avolumar demasiadamente o contas a receber, já que trata-se de dinheiro fora do alcance da empresa.  A cobrança precisa tornar-se mais eficiente, evitando as perdas já que essas quantias em cenários que inspiram cuidados são ainda mais valiosas. Se as compras sempre foram olhadas de perto, agora devem ser ainda mais. Comprar além do necessário, pode trazer um custo muito alto, pois gerará um estoque sem uso e um contas a pagar acima da capacidade de liquidação da empresa. Formar estoques muito altos será uma caminho arriscado, sem garantia de transformação em dinheiro. Por último, estender os prazos de pagamento o máximo possível, para completar o leque de providências necessárias.

O lucro e o caixa bem ajustados produzirão um excedente, que por sua vez permitirá o terceiro objetivo que é formação de reservas. E estas reservas precisam ser bem aplicadas em um colchão para suportar possíveis turbulências nos próximos 12 meses, e em investimentos bem planejados. Ter liquidez será essencial, por isso o nível de imobilização não pode ser total. Por isso, parte das reservas devem ser mantidas em aplicações financeiras, favorecidas agora com a alta dos juros. Ações e dólar vão ficar bastante voláteis e são aplicações para quem tem experiência nesses mercados. Para quem quer segurança, melhor ficar longe delas por enquanto. Renda fixa e fundos DI poderão ser uma boa alternativa desde que possuam taxa de administração não maior que 1,5%. Os cálculos dos investimentos precisam ser refeitos, para que a rentabilidade se adeque ao novo custo de capital mais alto. Isso quer dizer que os prazos de retorno e a taxas mínimas de atratividade precisam adotar novos referenciais. Quanto maior o risco, maior a possibilidade de deixar o projeto na gaveta aguardando um conjuntura mais propícia para conviver com ele.

Gerir é alocar recursos de forma eficiente e segura. Aventura é bom. Mas para o final de semana.
 
Artigo enviado originalmente para o site Alagoas Business

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PROBLEMAS SISTÊMICOS PEDEM SOLUÇÕES ESTRUTURADAS

O QUE É A PATOCRACIA

QUEM CARREGA O PIANO ?