CADA UM NO SEU QUADRADO



A divisão do trabalho fui uma das maiores invenções da humanidade. Foi por causa dela que conseguimos aumentar a produtividade e alcançar as maiores conquistas da nossa existência. Do conhecimento científico à produção de bens e serviços, ela caracteriza-se pela especialização do saber e da tarefa, com o objetivo de gerar sinergia, na qual as partes geram um resultado maior do que a simples soma individual dos seus resultados. Ela também é um dos fundamentos do funcionamento das equipes e da maior produtividade, mas apesar disso, por motivos diversos, muitas vezes este princípio é desconsiderado no cotidiano. 

Para ter uma ideia de como isso pode ocorrer imaginemos uma situação hipotética onde um paciente está sendo tratado por uma junta médica. Suponhamos que temos um cardiologista, um neurologista, um nefrologista e um endocrinologista atuando para recuperar o enfermo e que as consequências dos atos de cada um, repercutam no escopo dos demais, e por consequência na vida do paciente. Agora imagine se o especialista em coração começasse a receitar soluções para os rins, que o especialista em rins começasse a recomendar procedimentos para o sistema nervoso central, que o especialista neste assunto opinasse sobre o equilíbrio hormonal, e que por fim, o especialista nas glândulas interferisse no tratamento do músculo do miocárdio. Mesmo sabendo, que organismo é um só e que estes aspectos podem estar interligados, essa situação imaginária teria muitas vertentes a considerar. 

Na primeira, podemos supor que os profissionais envolvidos não se respeitam, não confiam no trabalho do outro ou não conhecem os seus limites profissionais. Na segunda, podemos pensar que eles excedem o seu escopo porque se acham melhor do que os outros e que sabem mais do que o próprio especialista no assunto, que provavelmente teve mais informações, vivências e formação para isso. Na terceira, também podemos conjecturar que eles querem mesmo é aparecer mais e se destacar, minorando o outro profissional. Na quarta, podemos refletir que o resultado para o paciente não vai ser dos melhores podendo inclusive leva-lo à morte. Na quinta,  podemos indagar se existe mesmo alguém que sabe de tudo.  As possibilidades podem ser inúmeras.


Felizmente nem todos são assim. Existem profissionais que tem a capacidade de respeitar o outro, sabem exatamente o seu campo de atuação, e conseguem atuar em conjunto sem atropelar os demais. Sabem que ninguém é bom em tudo, e que em vez de tentar dominar todo o conhecimento do planeta Terra, é mais adequado concentrar-se naquele no qual tem mais proximidade, evitando com isso hipóteses sem fundamentos, que levam a decisões equivocadas, baseadas em percepções meramente pessoais ou mesmo em interesses pessoais e pouco técnicos. 

O excesso de especializações e da  disponibilidade de informação sobre tudo, pode até contribuir para que tenhamos noção de vários assuntos, porém é necessário que se tenha humildade e lucidez para distinguir uma conversa informal de uma tratativa profissional, uma simples opinião de uma recomendação técnica, identificando quais são os fundamentos e premissas que estão sendo adotados, e qual o conhecimento e a experiência que servem de base para isso. Aliás, não é o dinheiro que define estas coisas. Nem a fama. São as atitudes diante das situações que a vida nos apresenta. Quer conhecer as pessoas? Preste mais atenção no que elas fazem do que no que elas falam. 

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