SER ÉTICO É SER COMPETENTE
O
fato que estamos constatando com as revelações da Lava Jato e Procuradoria Geral da República, é que os CEOs das
maiores construtoras do país e da maior indústria de proteína animal do mundo,
em vez de estarem tratando de planejamento estratégico, melhoria de processos,
satisfação dos clientes, produtividade de colaboradores, políticas de
qualidade, ocupavam seu tempo feito verdadeiros moleques comprando políticos
ladrões brasileiros. Este universo empresarial, que ancora o seu sucesso em
atalhos e privilégios é uma distorção da atividade e do conceito de competência
institucional e pessoal. Na verdade uma verdadeira inversão.
Imagine que quatro pessoas estão jogando em uma
mesa. E que como todo jogo este também tem algumas regras. E agora imagine que
uma dessas pessoas burla as regras do jogo e consegue sempre ganhar as
partidas, acumulando muito mais vitórias do que os outros. Não parece-me
razoável imaginar que esta pessoa seja competente pois quem realmente o é tem a
capacidade de vencer cumprindo as normas. Aquele que descumpre, na verdade
manifesta a sua incompetência pois não apresenta condição de obter os
resultados atendendo as normas que todos os outros observam. Descumprir as regras é atenuar as restrições para o sucesso, revelando com isso a insuficiência de atributos para lidar com elas. As vitórias
obtidas desta maneira são falsas assim como os seus frutos. Idolatrar pessoas
assim é demonstrar desconhecimento em relação à natureza do desempenho humano.
Ou de certa maneira querer trilhar o mesmo caminho desonesto.
Sim, porque somente alguém com uma clara falha de
caráter ficaria satisfeito com a própria vitória sabendo que a mesma foi obtida
de maneira escusa. Somente alguém com uma personalidade deformada, seria capaz
de tratar com os demais jogadores da mesa como se nada estivesse acontecendo,
sabendo ele que fez. Somente alguém com uma visão medíocre, dormiria em paz no
seu travesseiro tendo prejudicado os demais com a própria conduta. Estes tipos
são na verdade os enganadores que não sendo capazes de obter sucesso de maneira
competente, que necessariamente implica no cumprimento das regras do jogo,
esmeram-se em buscar meios de obter os resultados pelos próprios caminhos quase
sempre delituosos. Ou até buscam mudar as regras para se favorecerem, o que
manifesta a mesma incompetência.
Infelizmente, os criminosos da Odebrecht e da JBS
não estão sozinhos, pois ainda existem muitos empresários que se pudessem
fariam a mesma coisa. Existem muitas empresas onde o código de ética existe
apenas no papel, onde os valores que falam em honestidade ficam apenas nos
quadros pregados nas paredes. E existem muitas empresas que na própria
concepção, praticam apenas pequenos e inofensivos atos desconformes com a lei,
sem perceber que esta pequena contribuição é o exato alimento de um sistema
monstruoso que está devorando a sociedade brasileira e que hoje chamamos de
corrupção. Quando existe algo definido em norma interna ou lei sobre alguma
conduta, não existe meio termo. Ou você está cumprindo ou não está.
É claro que diante da enormidade insana de
dispositivos legais no ordenamento jurídico brasileiro, muitos deles
contraditórios, desnecessárias e até gerando duplicidade, talvez seja muito
difícil encontrar uma empresa ou pessoa que neste exato momento não esteja
descumprindo alguma obrigação. No entanto é dever de qualquer gestão, seja ela
pública ou privada, tratar do atendimento normativo, e além deste, do segmento
ético dos atos da sua administração. Para que isto ocorra, é necessário
primeiramente que a ética da empresa esteja disposta em um documento conhecido
por todos e vivenciado no cotidiano empresarial, sendo valorizado e sobretudo
vivido através de exemplos, principalmente pelos seus condutores.
Esperar bons desempenhos de seus colaboradores, construindo
uma expectativa em torno de sua competência, sem incluir nesta o elemento ético
é na verdade fomentar uma cultura organizacional danosa ao próprio patrimônio
da empresa, não sendo incomum encontrarmos o maior número de fraudes internas
e roubos, exatamente nas empresas que desconsideram este importantíssimo
detalhe. O poder e o dinheiro quando estão juntos, operam na cabeça das
pessoas que não possuem envergadura moral, de tal maneira que parecem descolar
da realidade e viver em um mundo paralelo muitas vezes absurdo, fazendo-os
parecer perfeitos sociopatas.
É lógico que ganhar o jogo é um desejo normal e
sadio de qualquer pessoa que entre nele. No entanto quando este objetivo é
colocado acima das regras, neste momento está se definindo o problema. Não, os fins não justificam os meios. Os meios é que determinam os fins. Ser competitivo é uma coisa, e ser competente é outra. Na primeira, são necessários atributos para competir. Na segunda, é necessário incluir a
ética para que tenhamos a verdadeira dimensão desta qualidade.
Comentários
Postar um comentário