CONVERSA NÃO É TRABALHO
O brasileiro demonstra ter uma
noção errada do que seja trabalho. Parece que ele pensa que conversar é na
verdade trabalhar. É interessante como alonga-se nas reuniões, demorando horas
para falar coisas que poderiam ser faladas em minutos, incluindo explicações e
assuntos que nada ou muito pouco tem a ver com o objetivo. Creio que ele gosta
mesmo é da interação pessoal, não é a toa que as mesas de bares ficam lotadas.
Imagino ele passando horas numa reunião e depois dizendo em casa
que estava trabalhando.
Costuma não ler direito o que
está escrito e sempre pergunta o que na verdade já foi dito ou informado. Quando
não faz diferente do especificado gerando necessidade de correção e retrabalho.
E quando as coisas não saem como deveriam, comumente culpa os outros e fatos
conjunturais. Faltou aquilo, fulano não fez isso, o ar condicionado parou,
minha sogra deu entrada no hospital, e por aí vai. É raro ouvir aquela afirmação
tão importante para avançar: “Eu errei. Vou consertar o erro e tratar de não
repeti-lo”, ou ainda “Você pode me ajudar a fazer da maneira correta ?”, ou
pelo menos “ Desculpe”. As vezes, tenho a nítida impressão que falta mesmo é humildade.
De fato, o brasileiro é um pseudo humilde. No fundo, convive com a arrogância
interior. Acontece que quem é assim, tem dificuldade de aprender e desenvolver.
Está aí um dos motivos do nosso subdesenvolvimento.
A conversa faz parte do trabalho
mas não é necessariamente ele. Fosse assim os políticos brasileiros seriam os
melhores do mundo, mesmo sendo os mais caros. Desde 1988, eles esmeram-se em
conversar nos gabinetes, nos corredores, nos restaurantes refinados, no mídia,
mas os resultados são pífios. Temos um engarrafamento de leis para serem
apreciadas, revogadas, saneadas e revistas maior do que um engarrafamento de
feriadão. Os números do país em Finanças Públicas, Educação, Saúde e Segurança,
demonstram bem a parte do Executivo. Na verdade ninguém faz direito a sua.
Conversar é importante para
alinhar condutas, transmitir informações, coletar opiniões, mas as coisas
acontecem mesmo é depois dela. Somente conversar não faz nada ser realizado.
Somente sessão de terapia. Se a pessoa não se determina, se planeja, se prepara
e executa, muito provavelmente o avião não sairá da pista de pouso. E para executar
é preciso habilidade e tempo. A primeira se consegue fazendo e aprendendo, e para
o segundo é preciso administrar bem a disponibilidade. Se você pensar bem, a
conversa é apenas uma fase preparatória para o trabalho. Como se fosse um
treino. O jogo mesmo vem depois.
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