MÉTIS E O ETARISMO NAS EMPRESAS

 


Métis foi demitida há 6 meses sob a alegação de redução de despesas. Ela é uma mulher bonita e uma profissional bem formada em Administração com uma vasta experiência. É divorciada e seus dois filhos vivem com ela. Refeita do choque, a procura por uma nova colocação começou nos dias seguintes com a atualização do currículo e pedidos aos colegas de trabalho por uma indicação. Ela também passou a inscrever-se nas vagas disponibilizadas no Linkedin e nos sites especializados no assunto. Chegou inclusive a contratar uma consultoria de Outplacement. Participou de algumas entrevistas, mas até o momento não conseguiu um novo emprego.

Ela é uma pessoa de etnia negra. E imaginou que suas chances seriam melhores quando começou a perceber que muitas empresas passaram a destinar cotas para pessoas de acordo com a cor da pele. No entanto, Métis tinha pela frente uma barreira ainda maior para superar. Ela tem 52 anos. E mesmo que faça exercícios regulares, mantenha uma dieta balanceada, tenha uma saúde perfeita e pareça uns 10 anos a menos, ela descobriu o Etarismo. Para se recolocar no mercado, além dos desafios do gênero e da cor, ela passou a lidar com o preconceito da idade.

Etarismo é uma prática que discrimina as pessoas conforme a data de nascimento. Ela parte da premissa que pessoas mais velhas são incapazes, desatualizadas, limitadas, ultrapassadas e por isso, descartáveis. Nas empresas, isso resulta na “juniorização” do efetivo e na dificuldade da permanência e contratação de seniors. Na prática, é a negação da experiência. O enaltecimento do jovem é um movimento da sociedade que o universo corporativo incorporou e não é de hoje. Antes de Métis se deparar com ele, já fez muitas vítimas. Ele também reduz a importância de aspectos profissionais em relação aos aspectos pessoais. Sim, pois toda a bagagem é desconsiderada por causa dos anos necessários para adquiri-la.

Este contrassenso fica ainda mais evidente, quando constatamos alguns fatos. A grande maioria dos CEOs e Empreendedores bem sucedidos do mundo são pessoas 40+. Ou seja, as empresas são comandadas exatamente por pessoas na faixa etária que elas descartam. Aqui no Brasil, 25% da população possui mais de 50 anos, o que significa considerar que um quarto das pessoas existentes são desconsideradas. Além do mais, o aumento da longevidade faz com esse montante aumente a cada dia. Métis não se conformou. Já acostumada a lidar com o preconceito que em muitos casos quer dizer ignorância, aprofundou a sua investigação para saber de onde vinha mais esse.

Os resultados são tão quanto interessantes. Até bem porque, ela buscou a verdade mesmo que seja inconveniente. A primeira origem não é dita abertamente. Nenhuma empresa vai admitir isso porém é muito relevante. Os profissionais mais jovens são mais baratos. Estão mais no começo da carreira, submetem-se à remuneração mais baixa e é possível até que ainda nem saibam valorar o seu trabalho direito. Outra origem é a suposta maior facilidade de gestão sobre juniors do que sobre os seniors. Por serem mais maduros, mais seguros e mais experientes, estes profissionais estão menos propensos a aceitar passivamente os devaneios, as incompetências, as enrolações e os erros de líderes despreparados. Eles acham mais cômodo conduzir equipes mais “fáceis”.  

A Tecnologia também está no leque destas origens. Parte-se do princípio que ela é uma prerrogativa exclusiva dos jovens e que pessoas a partir da meia idade, perdem a capacidade de aprender, gostar ou dominar ferramentas e recursos tecnológicos. Para não se estender muito, Métis encerrou com mais uma origem do Etarismo nas empresas. Foi o que ela chamou de Modelo do Vale do Silício que foi exportado para o mundo inteiro. Sabe aquela imagem do Google com aqueles ambientes descolados, com lanchinhos, almofadas, repletos de jovens nas suas salas ? Esse mesmo. Muitas empresas praticamente imitam esta cultura, e nela, os profissionais mais velhos parecem não ter uma cadeira.

Métis não ficou indignada. Ela é uma lutadora. Sempre foi. E continuou sua busca diária por recolocação. Ela encontrou iniciativas valorosas que combatem o Etarismo, alertando inclusive para as consequências de ter equipes cada vez mais inexperientes. Também encontrou algumas ofertas de vagas específicas para seniors, no entanto com funções que não correspondem com a sua trajetória profissional. Slogans e banners não resolvem o problema. Parecer inclusivo, não significa necessariamente ser inclusivo.

Métis é uma personagem fictícia. Mas pode existir. Pode ser qualquer um. Pois nascemos com cores diferentes na pele e com gêneros diferentes. Porém, invariavelmente todos nós, inclusive aqueles que discriminam, um dia vão deixar de ser apenas jovens.

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