PARA ONDE VAI O CAPITALISMO CONSCIENTE



Como serão as cidades do futuro


Na clássica teoria de finanças, o objetivo de um empreendimento é maximizar o retorno dos acionistas. Logo,os negócios precisam gerar lucro para poderem cumprir esta missão. Por mais que alguns pensem como o antigo Tio Patinhas ou o descabelado Karl Marx, imaginando que o lucro é somente acumulação ou exploração, ele na verdade vai muito além do que isso. E mapear o seu destino dá uma ideia bem clara desta transcendência. 

Depois de gerado, ele pode voltar para o próprio negócio fazendo-o cada vez melhor. Com isso gera mais empregos e desenvolvimento. Ele também pode ir para outros e novos negócios incrementando ainda mais a oferta de soluções para a sociedade. Também pode ficar aplicado no imenso sistema financeiro possibilitando financiamento para outros empreendimentos, necessidades de crédito e até para governos. E por fim, pode ser simplesmente consumido em bens e serviços para seus proprietários fazendo girar a roda do mercado. 

Então, livrando-se da imagem infantil de uma caixa forte cheia de moedas onde o lucro serve apenas para o deleite de um pato milionário,  ou a pejorativa, falaciosa e equivocada visão do sistema socialista, aquela mesma que implodiu no final do século passado, o lucro pode muito bem ser visto como um poderoso motor de prosperidade para pessoas, empresas, sociedades e nações. 


Mesmo assim, ele ainda não é suficiente para justificar tudo o que acontece no capitalismo e na alma empreendedora, nunca antes tão decantada como nos tempos de hoje. É exatamente isso que pensa o guru corporativo e professor Raj Sisodia, juntamente com John Mackey, CEO do Whole Foods Market. Uma idéia que consegue reunir de início um pensador e um empreendedor no mínimo merece a nossa observação atenta. 


Depois de pesquisar empresas que conseguiam manter alta reputação e fidelidade dos clientes sem ter investimentos exorbitantes em publicidade e marketing, Sisodia, Mackey e mais outros dois autores, publicaram em 2003 Firms of Endearment, traduzido no Brasil como Empresas Humanizadas. Eles identificaram que paixão e propósito era a explicação. Em 2008, exatamente o mesmo ano de uma das maiores crises econômico-financeiras americanas que propagou-se pelo mundo inteiro, os dois publicaram mais um livro fundando o movimento Capitalismo Consciente para disseminar modelos de negócios que vão muito além da lucratividade. 


Ao transcender o lucro, o pensamento do Capitalismo Consciente eleva o propósito da empresa ao patamar maior da sua existência. Destaca a cultura organizacional com valores e práticas como fundamento para isso, ativada por líderes responsáveis e comprometidos em servir ao mesmo, criando valor para todos os stakeholders. 


Por aqui no Brasil muita gente embarcou nessa linha corporativa. Foi o caso da XP, Natura, Movida, Cacau Show, Magazine Luiza, Riachuelo, Gerdau e Unilever. Pelo mundo não é diferente. A imprensa especializada e o mercado financeiro tem falado com frequência no modelo ESG (empresas focadas em um futuro mais sustentável no aspecto socio-ambiental e nas boas práticas de governança). Nessa mesma esteira, o sistema e a certificação B reúne negócios comprometidos em aliar o lucro aos impactos sociais e ambientais positivos, na conhecida ideia de "corrente do bem".  


Todo esse universo novo e desafiador, pode gerar um dilema na cabeça do empresário entre a prioridade para o dinheiro ou para o propósito. Ao ver o exemplo de algumas empresas imersas nesta filosofia, compreendemos que o primeiro é na verdade consequência do segundo. Não há nenhum conflito entre os dois. Na verdade se completam. 


De fato, trata-se também de um posicionamento estratégico poderoso diante de um ambiente externo que valoriza cada vez mais estes temas. Ao escutar Guilherme Benchimol falar sobre a possibilidade de mudar o mundo e o seu alinhamento com esse novo modelo empresarial, podemos especular que há uma grande diferença do que se passava na cabeça dos antigos magnatas financeiros. Mais do que discurso, é também uma diferenciação relevante em um mercado onde o preço e a qualidade dos players se aproximam bastante. E diante de muitas alternativas parecidas, o cliente acaba escolhendo aquilo que mais tem a ver com ele. 


Através das empresas conscientes e dos seus impactos, parece que uma nova sociedade tenta surgir em meio a uma era de transformação tecnológica e política, repleta de oportunidades e caótica como toda grande mudança na natureza e na história. Uma sociedade moldada por um capitalismo que evolui com a consciência da humanidade. E é exatamente para lá que este movimento vai. 


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